Opinião

O jogo virou, não é mesmo

E os se os golpistas tivessem vencido? – Ou outro entendimento sobre perseguidos e perseguidores

(*) Fernando Benedito Jr.

Durante quatro anos tivemos que ouvir diariamente, ecoando do “cercadinho” as declarações ignominiosas do ex-presidente Bolsonaro contra a esquerda, negros, gays, reforma agrária, meio ambiente. Como editor tinha que ler as agressões às companheiras jornalistas, tolerar as constantes violações da Língua Portuguesa, da ética, dos princípios básicos de civilidade. Não foi fácil passar pela pandemia e ver morrer milhares de pessoas, entre elas muitos amigos e amigas, vizinhos, pessoas próximas. Passei, passamos, por tudo isso, ouvindo chacotas, ironias do ex-presidente. “Não haverá um centímetro de demarcação de terra para índio e quilombola no meu governo”, afirmava sempre que podia. E podia sempre. Liberava o desmatamento, as queimadas e o garimpo na Amazônia e onde mais se quisesse, sem nenhum escrúpulo.
Diariamente, minha saúde mental sofria um abalo. Isso, sim era perseguição. Pior: era tortura.
O fantasma daquele monstro político me perseguia dia e noite. Torcia pelo dia em o veria fora do poder, mas me preparava para o pior. Desenvolvia estratégias de sobrevivência para o caso de ter que tolerar mais quatro anos daquela maldita perseguição. Isso, sim, uma sanha persecutória, como diz o general-senador.
Digo isso, porque parece que o ex-presidente está passando por um verdadeiro inferno astral. Ele e seus aliados acham issoe acham que é perseguição. Particularmente, acho que está longe de pagar pelos crimes que cometeu. E no meu modo de ver, a tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito é o menor deles. Seus sequazes acham que o “mito”, coitado, é uma vítima. Até hoje não perceberam sua sede pelo poder, pelo dinheiro, sua culpa de genocida.
Sofri, sofremos demais durante quatro anos de governo desta lastimável figura. A perseguição e o sofrimento mental foram implacáveis. Deixaram sequelas.
Sem anistia e sem piedade. Se tem alguém perseguido aqui, sou eu. Eu e grande parte do povo brasileiro.

(*) Fernando Benedito Jr.

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