Nacionais

Eleição é marcada por contradições

(DA REDAÇÃO) – Em Ipatinga, no domingo, um carro de som da campanha de Bolsonaro, novo ícone pop da extrema direita brasileira tocava “Pra não Dizer que não Falei das Flores”, de Geraldo Vandré, um hino da esquerda nacional desde a década de 60. Na fila de votação, uma senhora indagava: “Esta fila aqui é para colocar o homem lá em cima?” Grosso modo, este é mais ou menos o retrato do momento político brasileiro. Uma vontade enorme de mudar, mas sem saber exatamente para onde. O Partido dos Trabalhadores, demonizado como a síntese da corrupção nacional, com todo o vento contrário, conseguiu sobreviver e tudo indica que terá vida longa na oposição como a maior bancada da Câmara dos Deputados. Mas o anti-petismo, carregado com fortes doses de ódio e preconceito estimulado pelo bolsonarismo mostrou sua força nas urnas. Bolsa-família, Prouni, Minha Casa, Minha Vida, qual nada! Nada disso interessa aos brasileiros afoitos por algo novo, de preferência se vier acompanhado de um Taurus 38, uma Glock, uma PT .360 (essa com mais resistência).

O brasileiro não quer saber de debate, de ouvir propostas de governo, as mil maneiras de acabar com o desemprego e alavancar o crescimento econômico nacional. Esse papo de educação, cultura, é coisa de encher a paciência. As políticas transversais então, essa coisa de negros, etnias, sexualidade, gênero, então, nem pensar.

Além da desinformação e da despolitização, que são marcas do brasileiro, seja votando na esquerda ou na direita, esta eleição traz outras características tipicamente nacionais, como as piadas e os memes, a chacota com a própria desgraça, que ganharam força descomunal nas redes sociais, tanto quanto a difusão de fake news.

Além das piadas, as contradições – que não deixam de ser uma piada – acabaram dando o tom no primeiro turno da campanha presidencial. Moralistas, os bolsonaristas elegeram o ator pornô Alexandre Frota, intelectualmente imoral. Radicalmente anti-petistas, vão ter que enfrentar o PT como a maior bancada da Câmara dos Deputados; o movimento #EleNão ao invés de detonar Bolsonaro, teve efeito rebote, embora tenha cumprido seu papel de denunciar o machismo representado pela candidatura de Bolsonaro. A despeito de fazer uma limpeza anticorrupção, reelegeu-se um tanto de corruptos e elegeu-se um outro tanto. Queria-se acabar com a velha política, com o establishment, e o povo deu mais poder a velhos coronéis, ao capitalismo financeiro, industrial e ao agronegócio.

 

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