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Covid-19: médico explica mortes mesmo com queda na taxa de infecção

IPATINGA – O médico infectologista Márcio Castro fez uma avaliação do atual momento dos níveis de transmissão do novo coronavírus em Ipatinga. Conforme o boletim epidemiológico do último dia 4, a cidade tinha 5.905 casos confirmados de contaminação e 112 óbitos confirmados. As taxas de ocupação de leitos de UTI e de enfermarias também continuam altas, também segundo os boletins do dia 4, com 80% de ocupação dos leitos de UTI Covid-19 SUS e 97% de UTI não Covid-19 SUS, nos hospitais Márcio Cunha e Hospital Municipal.

Apesar deste cenário, a Prefeitura de Ipatinga informa que em pouco mais de 40 dias, Ipatinga reduziu de forma significativa o indicador que define o grau de transmissibilidade de infecção (RT) pelo coronavírus. No início do mês de junho, o índice estava em 1,99 (considerado o pior do Estado naquele período). Já no início do mês de julho, ele foi achatado para 1,09. E na última semana, entre os dias 12 e 18 de julho, esse percentual caiu ainda mais, descendo a 0,89.

QUEDA NA ACELERAÇÃO

Em sua análise sobre a situação, o infectologista Márcio Castro reconhece que os números são complexos, mas admite a redução na taxa de infectividade. “A gente observa que houve uma redução de R0, a taxa de infectividade. É como a se a epidemia parasse de acelerar. Mas, parou de acelerar em alta velocidade. Entretanto, mantém uma certa velocidade, um número de casos alto, mantém uma mortalidade que reflete as infecções que já ocorreram algum tempo atrás, mas não freou totalmente”, diz Castro. Ele defende a tese de que os altos índices de contágio e de óbitos em Ipatinga poderiam ter sido evitados ou minimizados se medidas mais severas tivessem sido adotadas para conter o avanço da doença, entre elas o isolamento social. “Não teve nenhuma medida robusta para frear a epidemia. O que ocorreu foram medidas que diminuíram levemente esta velocidade de aceleração”, aponta.

MORTALIDADE

Em sua avaliação, Márcio Castro explica inda o alto índice de mortalidade que vem ocorrendo na cidade, já chegou a registrar 7 óbitos num só dia e continuam ocorrendo mesmo com a queda na taxa de infectividade.

“Ocorre que num primeiro momento teve-se a infecção em pessoas mais jovens, que circulavam mais; e num segundo momento começa a atingir pessoas mais velhas, que estão em casa, que são atingidas, digamos, secundariamente. As mortes estão, de fato ligadas aos idosos e pessoas com outras doenças, mais vulneráveis”, diz, citando os casos de pessoas com comorbidades e mais suscetíveis às infecções do novo coronavírus.

TIMIDEZ

Márcio Castro criticou ainda a falta de medidas mais efetivas do prefeito Nardyello Rocha e do governador Romeu Zema no enfrentamento à pandemia. “Não tiveram coragem de tomar medidas duras, nem ele nem o governador. Claro, temos que entender que o Vale do Aço é uma região metropolitana, são várias cidades conurbadas, juntas, onde as medidas poderiam ter sido tomadas de forma regionalizada. A briga dos prefeitos não permitiu que nenhum deles tomasse uma atitude mais dura, por causa da posição contrária do ‘vizinho’, e junto a isto, o Estado foi completamente omisso. Chama a atenção o fato de que em outras regiões tem-se uma cidade-polo com outras bem menores no entorno e se você promove uma mudança na cidade-polo, você consegue influenciar a região toda. Aqui não se tem isso, o peso de Ipatinga para a região é proporcionalmente menor, Ipatinga não é um polo tão único, é um polo compartilhado. Isso implicaria em ter medidas articuladas entre os municípios, e que em hora nenhuma teve. Em Ipatinga – e o pessoal do Estado concorda com isso -, não tiveram coragem de tomar atitude, era para ter feito lockdown, talvez, lá em junho ainda. Era preciso fazer uma parada, de forma dura, para interromper a cadeia de transmissão”.

MAL-ESTAR

Além da ausência de medidas mais severas, Márcio Castro avalia que as flexibilizações acabaram provocando mais desacertos que acertos, causando mais confusão e insatisfação nos setores econômicos. “Em Ipatinga, não teve nenhuma medida forte neste sentido (endurecer o isolamento). Pelo contraio, se conseguiu gerar mais mal-estar liberando o comércio do Centro quase todo, na prática todo, e o Shopping não, as regras foram pouco claras, academias abertas, igrejas abertas. Não teve nenhuma medida rigorosa para conter a disseminação. O que se fez foi conseguir melhorar um pouco as vagas de UTI, que se deu conta de administrar um pouco. Mas o que vejo é que no hospital tem muito paciente idoso, com internação longa. Portanto, infelizmente, ainda por algum tempo vai continuar morrendo gente, mesmo que se consiga interromper ou reduzir a transmissão do vírus”, finaliza Márcio Castro.

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