Nacionais

Com competência, Bolsonaro faz oposição a si mesmo

(*) Fernando Benedito Jr.

Conforme já amplamente difundido por este site comunista-petista-bolivariano-esquerdista-gaysista, do ponto de vista econômico, o ano de 2019 já acabou. Os analistas de mercado reduziram para 1,13% as expectativas do PIB que já foi de mais de 2%. Isto significa que não há mais chances de recuperação do crescimento econômico este ano e, a seguir a toada, é possível que se chegue a dezembro com -0 (se é que isso é possível). E a “culpa”, como não poderia deixar de ser, é da oposição, “que não deixa o homem trabalhar”, ainda que a bancada do PSL, partido do presidente, seja a maior do Congresso e o governo tenha seus aliados na presidência da Câmara dos Deputados e do Senado, além das prerrogativas do Planalto de editar decretos e Medidas Provisórias.

“Bolsonaro não tem noção de prioridade, diz presidente da Comissão da Reforma da Previdência”. O deputado Marcelo Ramos, em manchete desta terça-feira (4) na “Folha de S. Paulo”, referia-se à ida do presidente da República ao Congresso para entregar o projeto sobre aumento de pontos da CNH em plena tramitação da reforma da Previdência, que já começou embaçada pelo Pacote Anti-crime, de Sérgio Moro, e foi sendo ofuscada pela flexibilização do uso de armas, pelos cortes na educação, pelas manifestações de rua convocados pelo próprio governo, pelos percalços e entreveros entre o Planalto e os demais poderes e, principalmente, pelo fato do governo se embaraçar nas próprias pernas. E a oposição quieta no seu canto, até porque nada relevante foi a plenário até agora. Nesta terça-feira, além da pontuação da CNH, foi enviada ao parlamento o plano de equilíbrio fiscal para os estados; foi aprovado antes que caducasse, no último momento,  o “pente fino” nos benefícios do INSS; no Senado tramita a flexibilização do Código Florestal, etc. Tudo ao mesmo tempo agora. Em muitos casos, além de dispersivas, são medidas antipáticas não só entre a opinião pública, mas entre os próprios parlamentares.

COLAPSO

Dia desses, o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM), constatou o colapso do governo Bolsonaro, em entrevista a “O Globo”: “Para onde a gente está indo não é bom. A gente precisa que cada um, com sua atribuição, colabore, principalmente Executivo e Legislativo, para construir pautas além da Previdência, para que a gente possa cuidar desses brasileiros que estão cada vez mais em uma situação que eu tenho chamado de colapso social. Estamos caminhando de forma muito rápida para esse colapso social”.

MESMA CESTA

Também já foi dito neste site que ao colocar todos os ovos na mesma cesta da reforma da Previdência o governo comete um erro estratégico, porque não reside na reforma a solução para todos os males do País, em particular a retomada do crescimento. E como o próprio Bolsonaro já disse que não nasceu para ser presidente e nem entende de economia, não dá para colocar a culpa nos outros. Deveria fazer como Lula, que também não sabia, e aprender logo, para não acelerar o colapso. Em último caso, pergunta pro Posto Ipiranga como resolve isso, tá ok.

Quanto a este erro de depositar na Reforma da Previdência toda a expectativa para solucionar os problemas nacionais, Rodrigo Maia também tem sua opinião e olha que ele não é nenhum comunista-petista-bolivariano-esquerdista-gaysista:

– Já está ficando claro para todo mundo que a reforma previdenciária por si só não vai resolver nada. Agora, para sair da trajetória (de colapso), o governo vai ter que ir muito além do que foi até agora. Vai ter que pensar projetos importantes na área de infraestrutura, políticas de segurança jurídica em muitas áreas, ter coragem de enfrentar desafios -, afirmou o presidente da Câmara.

ÓDIO A POBRE

Desde que tomou posse, Bolsonaro não adotou uma só medida que beneficie o cidadão, o trabalhador, os despossuídos, pequenos e médios empresários. Sequer falou neles em quaisquer de seus discursos mal feitos, senão para tirar benefícios, cortar investimentos, discriminar, aumentar o ódio e o preconceito contra os pobres. Estende a mão unicamente aos usurpadores, banqueiros, industriais, latifundiários, imperialistas – que, diga-se de passagem, também não estão morrendo de amores por seu governo, à exceção do “véio” da Havan e outros não menos reacionários. Seu governo nega o aquecimento global, defende os agrotóxicos, uma política externa de bajulação aos poderosos, acha que a Terra é plana, que a educação e a ciência devem extirpadas da face da Terra plana, que meninos vestem azul e meninas vestem rosa e os milicianos vão dominar o mundo depois de tomarem de assalto o Rio de Janeiro e por aí vai. Perde-se num varejo de inutilidades conservadoras que não tem tamanho nem serventia, quando deveria estar preocupado com o desemprego e a estagnação econômica.

Se a oposição estivesse realmente fazendo seu papel de oposição a este governo de milicianos, fascista, reacionário, entreguista e incompetente e torcendo para que o circo pegasse fogo logo de uma vez, seria até compreensível. O interessante na atual situação do País é exatamente este paradoxo. Quem está fazendo isso é o próprio governo.

Também nunca vi isso! É realmente assustador e inusitado um governo que faz oposição a si mesmo.

(*) Fernando Benedito Jr.é editor do Diário Popular.

Você também pode gostar

PHP Code Snippets Powered By : XYZScripts.com