Opinião

A FSFX, os “clientes” e os médicos

(*) Fernando Benedito Jr.

O Dia de Advertência programado pelo Corpo Clínico da Fundação São Francisco Xavier joga luz sobre algumas questões que precisam ser melhor compreendidas. Em primeiro lugar há que se ressaltar que a filosofia franciscana que algum dia permeou as ações da Fundação, há muito se perdeu no tempo. Transformado num negócio lucrativo, a saúde (e também a educação) tornou-se uma fonte de receita, embora nos estatutos seja uma instituição sem fins lucrativos. Não à toa, os pacientes se tornaram “clientes”. Um conceito, no mínimo, equivocado, mas que revela o grau de mercantilização dos serviços de saúde pela FSFX.

Claro, não é fácil manter um negócio nos moldes do Hospital Márcio Cunha com sua estrutura gigantesca que o colocava como um dos maiores e mais modernos hospitais do País. Não dá para sobreviver só com doações como as antigas Santas Casas de Misericódia ou de aportes de emendas parlamentares, embora o HMC receba também recursos do Sistema Único de Saúde e de outras fontes, principalmente do Usisaúde.

Ocorre que há muito a FSFX vem sendo gerida como se fosse uma empresa que precisa render dividendos a seus acionistas e para isso precisa reduzir despesas e aumentar lucros. Parece ser gerida por um CEO mãos de ferro, cruel e desumano.

Médicos competentes, experientes, vivenciados na saúde e na doença são defenestrados sem mais delongas, com um simples: “Não precisamos mais dos seus serviços”. São substituídos por residentes que sequer tem um tutor. Observam de longe os pacientes através da “janelinha”, do “consultório espelhado”, sem o mínimo contato até para perguntar “o que você está sentindo?”

Os médicos da FSFX estão sem recomposição salarial há cerca de 10 anos, os salários são os mais baixos de Minas Gerais, em razão disso, aumenta a evasão de profissionais em todas as áreas e especialidades, as equipes ficam desfalcadas, aumenta a sobrecarga de trabalho, degringola a qualidade da prestação do serviço e os “clientes” sofrem as consequências. Vive-se uma roda-viva de deterioração e sucateamento da saúde. E perdem todos. Os médicos ficam sem salários dignos, os “clientes” são mal atendidos, o Usisaúde perde “clientes” para os concorrentes, os princípios do SUS vão as cucuias e a Fundação perde a reputação que custou a construir. Simples assim.

Tem algo de errado neste enrosco e não são os médicos, nem quem paga o pouco franciscano Usisaúde…

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP

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