(Crédito: Arquivo familiar)
FABRICIANO – o Vale do Aço perdeu ontem o pioneiro de Coronel Fabriciano Abel de Carvalho. Novaerense, nasceu em 1928, quando a abertura da Estrada de Ferro Vitória a Minas chegava ao ainda distrito de Itabira. Sua juventude foi interrompida pelo trabalho, quando aos 14 anos de idade ingressou na ferrovia, indo trabalhar com seu pai Mário Carvalho, então engenheiro residente, responsável pelo trecho ferroviário de Governador Valadares a Itabira.
Em pouco tempo Abel se tornou um exímio conhecedor de equipamentos ferroviários, locomotivas, tratores, escavadeiras, entre outros maquinários.
DESAFIO
Na mesma década, quando os recursos financeiros da ferrovia se esgotaram, os trens pararam de circular, estações foram fechadas e a empresa demitiu todos os seus funcionários por dois anos. Nesse intervalo de tempo, Abel, com seus dezoito anos de idade, procurou emprego numa construtora em Belo Horizonte. Na empresa, trabalhava um ex-ferroviário, mecânico de escavadeira, que o apresentou com muitos elogios, ao dono da firma, que era chamado por doutor Sérgio.
Abel foi admitido imediatamente e recebeu a missão de levar até a fazenda do novo patrão, à margem do rio Araguaia, em Mato Grosso, um trator de esteira D8 Caterpillar recém comprado dos EUA. A missão era abrir com o trator uma faixa no meio da selva, ao longo da divisa da fazenda, para a construção de uma cerca, e fazer uma pista de pouso para aterrissagem de avião de pequeno porte.
JANGO
Sessenta dias passados na fazenda, com o serviço concluído, um avião monomotor desceu no local trazendo o doutor Sérgio e um amigo. O então amigo do empreiteiro, que se dedicou à pescaria, era o engenheiro João Goulart, que veio a ser presidente do Brasil pouco tempo depois.
READMISSÃO
Ao retomar as atividades, a EFVM readmite Abel Carvalho e todo o pessoal dispensado, implementando uma nova fase de melhoramentos ferroviários. Desde então, Abel progrediu em todos os setores da via permanente, se tornando um dos mais conceituados funcionários da CVRD. Na década de 60 ele assume a gerência da 3ª Residência da Via Permanente, no lugar de seu pai, que foi nomeado diretor da companhia. À frente da unidade sediada em Coronel Fabriciano, Abel, com apenas o curso primário incompleto, foi nomeado ao quadro de engenheiros da CVRD, caso único na empresa, em reconhecimento a sua capacidade técnica e dedicação. Abel ficou à frente da 3ª Residência até se aposentar em 1978.
CENTRAL DO BRASIL
Antes de sua aposentadoria, no início dos anos 70, a CVRD assumiu o controle da E. F. Central do Brasil, entre Nova Era e Belo Horizonte e Abel dedicou parte de sua trajetória no novo trecho, que foi modernizado para comportar o pesado tráfego de minério. Ao mesmo tempo, Abel coordenou a construção do Ramal de Fábrica, obra considerada uma epopeia, levar os trilhos pelas montanhas de Costa Lacerda à região de Ouro Preto, aos pés da Mina de Fábrica.
FAMÍLIA
Morador de Coronel Fabriciano desde a década de 50, Abel teve nove filhos com a esposa Geny Souza Carvalho, cuja prole tinha algo de peculiar, cinco de seus filhos se revelaram exímios desenhistas.
Abel de Carvalho, autodidata, dedicou toda a sua energia e criatividade ao melhoramento da ferrovia. Ao se aposentar, ele sentia orgulho de ter contribuído para a eficiência de uma das mais importantes estradas de ferro do país. Após sua aposentadoria, Abel foi gerente na construção de uma ferrovia de 45 quilômetros no estado do Pará, ligando a mina de bauxita ao Porto de Trombetas.
Abel assentou ainda a linha do pátio ferroviário da Cenibra quando da implantação da fábrica de celulose e de um embarcadouro de minério no município de Caeté. Em Coronel Fabriciano, onde viveu desde a década de 1950, Abel abriu a rua Marechal Floriano, o pátio da igreja católica do distrito de Melo Viana e coordenou a transferência da linha férrea para o outro lado do rio Piracicaba.
No final de novembro de 2003 Abel publicou sua autobiografia, com o título de “Trilhas,Trilhos e Rios da Minha Vida”.
