terça-feira, novembro 26, 2024
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Uma imersão na cultura do café do plantio à xícara no Polo Cuesta

Fazenda São Pedro do Pardinho, próximo a Botucatu (SP), divide sua experiência no tour do Cuesta Café, desde as lavouras até a bebida

(*) Fernando Benedito Jr.

BOTUCATU (SP) – Uma imersão na cultura do café do plantio à xícara é o que promete – e cumpre – a proposta do tour do Cuesta Café promovido na Fazenda São Pedro do Pardinho, no Polo Cuesta, interior de São Paulo. A região do Polo Cuesta é uma formação geográfica e geológica que engloba os municípios de Botucatu, Pardinho, Anhembi, Avaré, Bofete, Itatinga, Paranapanema, Pratânia e São Manuel.

A região montanhosa preserva trechos de mata atlântica e está a uma altitude de 1.020 metros acima do nível do mar em seu ponto mais alto, o que garante o clima perfeito eo “terroir” para a produção cafeeira, um dos principais eixos econômicos da região, atualmente dividido com a soja, a cana de açucar, o eucalipto e outras commodities e produtos agrícolas.

A fazenda São Pedro do Pardinho tem uma história centenária, marcada pela construção da tulha de café com data aproximada de 1890, mas foi adquirida pela família do atual proprietário no início dos anos 70. E foi em meados de 2010 que começou a trabalhar com cafés de qualidade buscando sair do mercado convencional de commodities, surgia o Cuesta Café.

O tour do Cuesta Café pela Fazenda São Pedro do Pardinho é guiado por Robinson Kimura, que foi design de produtos e barista, antes de se enveredar pelo mundo do café.

A experiência de Kimura começou em 2014 no CoffeeLab em São Paulo – da renomada barista Isabela Raposeiras, cuja família materna, coincidente ou curiosamente, é de Botucatu –, após arriscar uma mudança de área profissional. “Depois de um ano de muito aprendizado abri meu próprio negócio, junto com minha esposa, com o nome de Nano Cafés Especiais. O Nano surgiu como um coffeetruck e em seguida abrimos também uma loja na região da Bela Vista. Foram quase cinco anos trabalhando atrás do balcão e administrando um pequeno negócio, no fim desse período já morávamos no interior de São Paulo”, narra Kimura.

Kimura prepara a degustação com o café da fazenda

Segundo ele, com a pandemia o Nano tomou novos rumos e hoje praticamente encontra-se em standby. “Porém, minha esposa e eu continuamos trabalhando com café, mas em áreas diferentes. Eu trabalhando no Cuesta Café/Fazenda São Pedro do Pardinho e ela escrevendo para uma plataforma chamada PDG Brasil (Perfect Daily Grind Brasil)”, explica.

ista do Polo Cuesta abrange os municípios de Botucatu, Pardinho, Anhembi, Avaré, Bofete, Itatinga, Paranapanema, Pratânia e São Manuel

INFRAESTRUTURA

Ainda sem uma boa infraestrutura de hotéis, na Cuesta é possível encontrar algumas pousadas e chalés, mas os viajantes precisam reservar com antecedência porque são poucas as opções. A outra alternativa é se hospedar em Botocatu a 14 km de distância, em Pardinho ou nas outras cidades do Polo, um pouco mais distantes. O local começa a ter uma boa referência de bares e restaurantes, locais para a prática de esportes radicais, montanhismo e tirolesa. Nos finais de semana também é um dos points preferidos dos motociclistas que sobem a serra para curtir o ar puro das montanhas.

Terreiro de secagem do café: em primeiro plano, sistema de lavagem e separação dos grãos

PLANTIO

Na centenária fazenda, as plantações de café são divididas em talhões, cada um com uma variedade de café (Bourbon, Catuaí Vermelho e Amarelo, Topázio, Acaiá, Mundo Novo e Tupi) para que não se misturem na hora da colheira. Em média, se tudo der certo e não houver as intercorrências da natureza, como o calor extremo, geadas, etc, o cafezal produz a partir do terceiro ano do plantio.

É comum que em meio ao cafezal também sejam plantadas outras espécies como as bananeiras, abacateiros, espécies de árvores, que ajudam a sombrear e a proteger o cafezal das ventanias, evitando que se quebrem.

O guia Robinson Kimura explica o funcionamento da colheitadeira e do processo pós-colheita

COLHEITA

Na época da colheita, os primeiros frutos, na fase cereja, ou seja, quando estão vermelhos (se a espécie for de café Acaiá, por exemplo, o fruto fica avermelhado quando amadurece; se for o Topázio, os frutos ficam amarelos), são colhidos manualmente, colocados para secar ao sol e depois beneficiados, descacados, torrados e, finalmente, moídos, para chegarem a xícara.

Em cada uma destas etapas os grãos que garantem os cafés especiais são rigorosamente selecionados em microlotes e não se misturam com o restante da produção que vem de outros talhões, com outras variedades ou que são colhidos posteriormente.

Na Fazenda São Pedro do Pardinho são plantadas as variedades Bourbon, Catuaí Vermelho e Amarelo, Topázio, Acaiá, Mundo Novo, Tupi, Arara, Acauã, IPR107 e Laurina. São cerca de 700 mil pés de cafés, espalhados em mais ou menos 110 hectares de área agricultáveis, além de outros talhões fora da propriedade. A Fazenda possui um viveiro que produz suas próprias mudas. Em 2021, foram produzidas cerca de 250 mil mudas de cafe Arara, Acauã, IPR107 e Laurina.

A colheita em grande escala é feita de forma mecanizada. Uma máquina sacode os pés de cafés e recolhe os frutos que vão direto para uma caçamba e daí para os caminhões ou tratores com carrocerias que levam o produto para a seleção nas peneiras, onde primeiro são lavados e distribuidos conforme o tamanho dos frutos, sua umidade e densidade e levados ao terreiro de secagem. Durante o processo de colheita, nada se perde. Até mesmo os grãos que caem no chão são recolhidos porque sua permanência no solo pode comprometer a lavoura: são nestes grãos que ficam na terra que surgem as pragas, como a “broca” que pode atacar e destruir o cafezal, ou na melhor das hipóteses causar danos e prejuízos irreparáveis.

BENEFICIAMENTO

O coquinho, a primeira casca do grão de café é retirada mecanicamente, assim como o pergaminho uma outra película, mais fina, que reveste o grão. Só depois desta etapa do beneficiamento, o café devidamente seco, está preparado para a torrefação.

O trabalho do Mestre de Torra não é menos dificil do que todo o processo que vai do plantio à colheita. Para aproveitar todo o potencial dos melhores grãos é preciso atingir o ponto de torra dos lotes, testar, provar, até atingir a receita correta. Nesta etapa, o Mestre de Torra tem que estar atento às muitas variantes do lote de café, como o grau de umidade do grão, tempo de exposição ao calor, temperatura, etc.

Uma vez atingido o ponto de torra perfeito, o café está pronto para ser moído e bebido.

EXTRA FORTE

Além da produção do café especial e dos outros cafés, o tour do Cuesta Café serve para abrir a mente e ensina a diferenciar o café especial dos cafés comuns que se compra no supermercado e dos cuidados que se deve ter na escolha de um bom café e o melhor modo de prepará-lo.

Entre as descobertas destacam-se “técnicas” utilizadas por algumas das principais marcas vendidas em larga escala, as chamadas commodities, como a classificação de café “extra forte”, que nada mais é do que uma torra além do ponto, que quase queima o café com o objetivo de esconder seus defeitos. Entre estes defeitos estão a mistura de variedades e lotes diferentes, grãos com brocas e outras imperfeições e até gravetos e outros rejeitos que se misturam na hora beneficiamento. Outro ato simples que pode melhorar a qualidade da bebida é escaldar o coador de papel – se o preparo for de café coado – para retirar o excesso de químicos resultante do processo de branqueamento da celulose tornando o café mais puro.

O Café Cuesta, onde os visitantes podem provar o café produzido na Fazenda

O TOUR

O tour do Cuesta Café custa R$ 100,00 por pessoa R$ 120 para casal ou grupos e inclui guia especializado, degustação de café produzido na fazenda, visita monitorada ao cafezal (lavoura), pós- colheita (terreiro) e torrefação.

O passeio é encerrado com uma degustação na antiga casa de pedra onde funcionava a tulha para benficiamento dos grãos e que deve se tornar um museu da fazenda.

Toda a visitação tem duração aproximada de 2h00 e é feita pelo Trenzinho, um trailler com cobertura (para o caso de chover) puxado por um trator. É recomendado o uso de calças e sapatos fechados e confortáveis, além de repelentes de insetos e protetor solar. O uso de máscara é obrigatório.

SERVIÇO

Coffee Tour Cuesta Café

Fazenda São Pedro do Pardinho

Rod. João Emilio Roder km 04, s/n Zona Rural, Pardinho – SP, 18640-000, Brasil

www.cuestacafe.com.br

+55 14 99152-0381 (Whatsaap)

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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