(*) Fernando Benedito Jr.
O assassinato do miliciano Adriano da Nóbrega pode até não ter sido uma queima de arquivo enquanto uma ação articulada com o objetivo de eliminar a testemunha indesejada, mas cai perfeitamente bem no caso dos Bolsonaro. Torna-se uma queima de arquivo, como temia a própria vítima em conversa com o advogado que o representava. Não querem me prender, querem me matar, havia dito. Acusado de comandar uma quadrilha de matadores de aluguel e de chefiar a milícia carioca Escritório do Crime, Adriano foi homenageado duas vezes por Flávio Bolsonaro, quando ele era deputado estadual. A ex-mulher e a mãe de Adriano também tinham um emprego fantasma no gabinete de Flávio Bolsonaro, onde nunca compareceram, mas receberam mais de R$ 1 milhão, que foi transferido para a conta de Queiroz, o lavador oficial do gabinete do primogênito do presidente da República. Bolsonaro pai também rasgou loas ao miliciano, elogiando seus assassinatos, quando era deputado federal. Bom lembrar também que o ministro da Justiça Sérgio Moro poupou o miliciano Adriano da Nóbrega na lista dos mais procurados do Brasil, possivelmente para não melindrar a família Bolsonaro.
Expulso do Exército por insubordinação, Jair Bolsonaro tem um estranho apreço pelos militares. Um apreço que não se traduz em políticas claras para as corporações já que os recursos para a Polícia Federal, por exemplo, se refletem na queda sensível das operações do órgão. Tampouco, se reflete em investimentos nas Forças Armadas, onde o sucateamento é visível desde a estrutura dos quarteis aos armamentos. Os caças da Aeronáutica e os novos submarinos de propulsão nuclear são projetos dos governos Lula e Dilma. Mas a bajulação do presidente aos militares e policiais é forte e encontra eco nos quartéis. Parece que ele o faz temendo tornar-se um alvo, em função de possíveis envolvimentos com algo mais grave, que possa resultar de eventuais investigações, do que por qualquer outro motivo. Ele e os filhos defendem que polícia tem que matar mesmo, tem que dar o primeiro tiro senão toma, que bandido bom é bandido morto, distribui privilégios corporativos, etc.
Bom, isto posto, é interessante observar o silêncio loquaz de um presidente tão afeito as bravatas e a verborragia que lhe acomete sobre qualquer tema do qual discorde ou que lhe interessa. A morte de Adriano, certamente, é um tema que lhe interessa, afinal, lhe rendeu homenagens, discursos e honrarias. Mas, sobre isso, se cala.
Entrando na cena da morte de Adriano, é possível constatar que ele foi pego de surpresa. As forças de segurança não revelam o possível confronto, número de balas disparadas – Adriano estava com umas relepas enferrujadas –, calibres, situação de confronto, resistência, não parece ter havido voz de prisão e rendição. A morte tem características de execução.
Mas não é o que importa agora. Agora, o que importa é o silêncio dos Bolsonaro. Mas é preciso respeitar a família de milicianos, afinal, é aquele minuto de silêncio, em reverência e respeito ao morto, ao amigo perdido, ao colega de patente do presidente.
(*) Fernando Benedito Jr. é jornalista e editor do Diário Popular.