segunda-feira, novembro 25, 2024
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Um abismo chama outro abismo

Caro leitor, quantas vezes eu e você, na tentativa de esconder nossos erros, optamos por cometer outros erros, ainda piores do que o primeiro? Quantas vezes, ao fazermos algo condenável e, com medo de sermos descobertos, tomamos a decisão de cometer um ato mais condenável ainda?

Se isso nunca aconteceu com você – o que duvido muito -, nem mesmo em sua infância, te dou meus parabéns! Mas, arrisco a dizer que, se esse for o seu caso, de nunca ter cometido um erro para esconder outro erro, o seu caso é muito raro, pois, na maioria das vezes, muitos de nós cedemos à tentação de tapar o sol com a peneira e, na tentativa de ocultar nossas atitudes reprováveis, cometemos outras, na maioria das vezes, piores que a primeira.

O salmista expressa isso de uma forma bem sucinta, mas que traz todo o peso que essas decisões erradas têm ao dizer que “um abismo chama outro abismo”, ou seja, um erro, quando não pensamos direito e agimos por impulso, “chama” outro erro, nos leva a outro erro.

Um tropeço, uma queda, aliados ao entorpecimento de nossa consciência, ao enfraquecimento de nossos princípios morais, tem o potencial de nos levar a outros tropeços e outras quedas ainda piores que os primeiros e, quando nos assustamos, já estamos no fundo do poço sem ter como sair, presos em nossos erros, em nossas decisões erradas, presos nas consequências geradas pelas nossas atitudes não pensadas, de modo que, se não pararmos e pensarmos séria e profundamente em nossas ações futuras, ficaremos alimentando por muito tempo todo esse ciclo, o abastecendo com decisões cada vez piores, de maneira que, enquanto não refletirmos profundamente em nossos atos, um abismo sempre chamará outro abismo, de maneira a afundarmos cada vez mais em nossas más escolhas.

Além da expressão do salmista, a Bíblia também narra uma história que ilustra perfeitamente essa ideia e nos mostra como uma decisão errada, mal pensada, tomada por impulso na hora do desespero, pode nos levar a consequências e ações muito piores. Falo da história do famoso rei Davi.

Como muitos sabem, certo dia, o rei Davi não foi para batalha e de seu palácio viu uma bela mulher tomando banho e se interessou por ela. Aquela mulher era Bate-Seba, esposa de Urias, um bom soldado, e fiel ao seu rei. Davi, então, tem relações com Bate-Seba, e ela acaba ficando grávida de um filho do rei. Davi, então, começa a fazer planos para que seus atos não sejam descobertos. Sua primeira ideia foi enviar mensageiros para o campo de batalha com uma mensagem para Urias, dizendo para que ele voltasse para casa.

A intenção de Davi era que, voltando para casa, depois de passar dias longe de sua esposa, Urias teria relações com ela e, depois, quando a gravidez fosse “descoberta”, Urias pensaria que a criança era fruto dessa sua vinda para casa. Mas, como muitos sabem, o tiro de Davi saiu pela culatra.

Urias, sendo soldado fiel ao rei, quando voltou da batalha, não se afastou de Davi, mesmo com o rei o mandando ir para casa, para sua esposa, Urias, em sua fidelidade, não abandonou Davi.

Com seu primeiro plano frustrado, Davi, em seu desespero, e sem pensar nas consequências de seus atos, planeja outro plano, pior que o primeiro: como “um abismo chama outro abismo”, com a falha de seu primeiro plano, Davi, agora planeja a morte de Urias e arquiteta um plano para que ele morra em batalha.

Com a morte de Urias, Davi, como rei, teria a “obrigação” de assumir Bate-Seba – coisa comum aos reis daquele período – e, assim, a gravidez seria algo normal, e não causaria estranheza alguma.

Toda essa história serve como um exemplo de como “um abismo chama outro abismo”, e as decisões erradas, grotescas, de Davi, nos mostram que, mesmo as pessoas mais boas e humildes podem acabar seguindo por esse horrendo caminho ao não controlar seus piores desejos.

Além do exemplo de Davi, a própria Bíblia, não escondendo o erro das pessoas que compõem toda a sua história, nos mostra vários outros exemplos desse tipo, onde péssimas decisões levam a outras piores.

Em toda a história de Davi, podemos ver a maneira como decisões erradas, ações erradas, podem nos levar a decisões e ações ainda piores quando nós tentamos maquiar o erro, quando tentamos escondê-lo.

Que tomemos cuidado com os “abismos” que criamos para nós mesmos pois, se não recebermos a graça de nos arrependermos, assim como Davi se arrependeu, esses abismos, essas más decisões e más escolhas, poderão ser o motivo da nossa própria destruição.

(*) Wanderson R. Monteiro é graduando em Pedagogia, coautor de 4 livros e vencedor de três prémios literários.

(dudu.slimpac2017@hotmail.com)

São Sebastião do Anta – MG

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