Cultura

Trans-Bordando em Chica chega com novidades ao CCU

IPATINGA – Trans-Bordando em Chica, o projeto mais novo da estilista e artista plástica Vanuza Bárbara, inspirado na escrava Chica da Silva, está em exposição no Centro Cultural Usiminas. A exposição, que já conquistou incontáveis olhares no Centro Cultural Aperam, em Timóteo; e no Centro Cultural Nelson Mandela, em Governador Valadares, foi ampliada trazendo peças para crianças.

TEMÁTICA
O propósito inicial de Bárbara era contar histórias de Chica, por meio das roupas, destacando sua relação de 16 anos com João Fernandes, poderoso contratador de diamantes, que se apaixonou pela escrava garantindo alforria a ela. Os lugares onde ela viveu e por onde passou também estavam entre os temas pensados inicialmente. “Então foquei nessas temáticas, na arquitetura de Diamantina e seus diamantes, nas ruas da cidade e na natureza – no serrado, com suas flores e sua luz retratada lindamente na exposição fotográfica que compõe a Mostra de Nilmar Lage e Rodrigo Zeferino”, enumera a estilista, acrescentando que, em seguida, sentiu necessidade de completar a obra fazendo referências aos filhos de Chica.

FILHOS
Para Bárbara, é curioso o fato de como a alforria conquistada pela escrava assegurou aos seus filhos – todos reconhecidos por João Fernandes, a mesma educação que se dava aos jovens da aristocracia, um modo de garantir a inclusão de sua prole na sociedade branca.
Os filhos homens de Chica, formados em escola de educação superior, chegaram a participar da administração do Reino, em Portugal, para onde foram levados pelo pai. As meninas também receberam boa educação, a que se concedia aos nobres da época. Além do ensino regular, elas cursaram música e aprenderam a fazer artesanatos, como tricô e bordado. “Como brancos ricos, os filhos de Chica desfrutaram das riquezas produzidas com a exploração dos diamantes. Era o apogeu do cristal”, observa a estilista.

PRECONCEITO
Apesar das tentativas de Chica de assegurar as melhores condições de vida aos seus filhos, o preconceito reinava impetuoso no Brasil colonial, que insistia em manter sistemas de exclusão pela cor, raça e origem. “Se, por um lado, os filhos de Chica ganharam importância na sociedade por herdarem a fortuna do pai, por outro, a origem negra e escrava da mãe foram obstáculos para a inserção social do grupo. Esse fato dificultou a legitimação da união entre as filhas da Chica e homens portugueses. Em relação aos filhos da Chica, muitas vezes eles precisaram esconder a origem escrava nos processos de investigação familiar para ocupar cargos importantes no império português”, explica Bárbara.

SUSTENTABILIDADE
Fiel à sua proposta de investir em moda sustentável, Bárbara seguiu, na linha infantil, os mesmos caminhos percorridos para a criação das primeiras peças de Trans-Bordando em Chica. “Pensei cada roupa sem perder os focos que prezo, a valorização das artes, da cultura, da história, a sustentabilidade e o caráter social de minhas produções. Mantive a pesquisa sobre Chica, acrescentando a sua relação com seus filhos. Voltei a me beneficiar dos tecidos de refugo e das artes, em todo o processo, desde a criação dos modelos, passando pelo tingimento das roupas, até a sua finalização com a escolha dos bordados e registro fotográfico do trabalho”, comenta a artista.
A coleção infantil foi criada em parceria com as mulheres do Fazendo Arte, grupo de bordadeiras do Bom Jardim, promovendo seu talento, inclusive por meio de oficinas gratuitas com nomes importantes do designer nacional, e estimulando as artesãs a criar e a gerar renda a partir das atividades artísticas.
Os tecidos utilizados nas roupas foram cedidos pelos patrocinadores de Bárbara, a Provest Uniformes, Fraldas Carinho e a Love Life Langerie, “fundamentais na defesa da bandeira da moda sustentável, ecologicamente correta, ética”, enfatiza Bárbara, que conta com o apoio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura.

ORIGEM NOBRE
Os desastres ambientais, a escassez de água, fatos que impactam fortemente esta geração, devem motivar as pessoas a pensar no que vestem, segundo observa Bárbara. “Hoje podemos dizer que os tecidos de origem nobre são os reutilizados de confecções que seriam lançados no meio ambiente. As pessoas estão mais abertas à ideia de não descartar guarda-roupas inteiros a cada estação. Os consumidores têm estado bem abertos à moda sustentável, a que conta histórias para serem guardadas”.
Bárbara, que já está em seu quinto projeto produzido nesses moldes, observa o impacto positivo do seu trabalho. Ela diz que se surpreende, a cada dia mais, com a procura por suas criações. “Vejo que é uma tendência mundial, e o que se deve mesmo esperar, não só da minha, mas de todas as grifes – que trabalhem com o devido respeito ao meio ambiente”, finaliza Bárbara.

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