Parlamentares do PSL, entre os quais a deputada Alê Silva, colocam delegado demitido por denuncia-crime no STF contra Ricardo Salles, sob fogo cerrado em audiência na Câmara; policial reage a todas provocações. Leia.
(DA REDAÇÃO) – O delegado da Polícia Federal, Alexandre Saraiva, ex-superintendente da PF no Amazonas e responsável pela notícia-crime apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, foi alvo de um verdadeiro “tiroteio” de deputados governistas durante audiência na Câmara dos Deputados. A deputada Alê Silva (PSL), do Vale do Aço, foi uma das que criticou a atuação do delegado, demitido do posto ao tentar barrar o desmatamento ilegal na Amazônia. O delegado afirma que o ministro Ricardo Salles e aliados tentaram dificultar a ação de órgãos ambientais no estado. A ministra Cármen Lúcia é relatora do pedido de investigação.
Durante a audiência ele afirmou que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, fez uma “inversão” e “tornou legítima a ação dos criminosos, não do agente público” nas ações de fiscalização na Amazônia.
Confrontado em tom de ameaça pelos deputados governistas, o delegado enfrentou todos eles e demonstrou coragem e firmeza em seus posicionamentos.
Leia abaixo a transcrição das intervenções dos parlamentares e as respostas do delegado:
Deputada Alê Silva (PSL) – “Acabei de chegar à conclusão de que sua exoneração foi por incompetência. Desídia, negligência, por inquérito que nem conseguiu concluir a contento. Não reuniu as provas necessárias”.
Delegado Alexandre Saraiva – “A deputada Alê Silva me chamou de incompetente, mas procurei por ela no site aqui da Câmara e ela fez 52 propostas legislativas e só duas relatadas. Acho que incompetente é ela”.
Deputado e ex-delegado da PF Ubiratan Sanderson (PSL) – “Quando o senhor sai desta esfera e resolve ocupar a imprensa a mídia em nítido extrapolamento da sua função o senhor se coloca numa posição complicada e diria até que o senhor está em maus lençóis. Eu, em 25 anos de PF, só vi um delegado [referia-se ao delegado Protógenes Queiroz] sair do seu quadrado, sair da sua competência e o destino dele o senhor sabe qual foi. Achou que era autônomo e mandava mais que a própria lei e foi demitido da PF. Fico aqui até envergonhado. Não tinha presenciado um convidado pela Câmara ser tão arrogante e prepotente quanto o senhor. Fico até envergonhado. O senhor não é um agente político, então, quando não se contém, sai do seu quadrado, da sua competência, digo que o senhor está em maus lençóis”.
Delegado Saraiva – “Quanto ao deputado Sanderson, tenho duas coisas para dizer para ele. Quando nasci a primeira coisa que perdi foi o medo. Então, essa conversa de que pode ser demitido não faz sentido. Quando entrei para a policia – acho que o senhor ficou pouco tempo – entrei com o risco da própria vida, que dirá do emprego. Que tipo de policial é o senhor que tem medo de perder o emprego quando pode levar um tiro? Entre levar um tiro e perder o emprego, o que seria dos nossos companheiros PMs, se pensassem assim como o senhor. Quanto a ser arrogante, o meu pai me ensinou uma coisa que ensino ao meu filho: não seja arrogante com o humilde, nem humilde com os arrogantes”.
Deputado Ubiratan Sanderson (interrompendo) – “Ninguém aqui proferimos [sic] impropérios e xingamentos estamos sendo xingados aqui por um servidor público”.
Delegado Saraiva – “Eu também não [proferi rimpropérios]. Eu fui chamado de incompetente e de arrogante e o senhor falou para eu conseguir um bom advogado. Eu estava lhe respondendo. O senhor perguntou o que quis e eu respondi o que quis.
[Segue-se um bate-boca inaudível]
Sanderson continua – “Eu cheguei aqui com quase 110 mil votos dos gaúchos e não aceito ser desrespeitado por quem quer que seja, ainda mais por um servidor público”.
Delegado Saraiva – “Eu passei num concurso público e também não aceito”.
Deputada Carla Zambeli – “É possível errar. O ser humano erra. o senhor citou a empresa Rondobel. Diz que tinha diversas multas no Ibama. Eu peguei uma das multas que o senhor falou e acho que toda empresa ambiental é passível de multas, mas multas e crimes são coisas diferentes. O senhor coloca como se fosse uma empresa criminosa. Tenho aqui um relatório do Décio Ferreira Neto que diz: “Dessa forma, concluímos este relatório afirmando não haver indícios suficientes de materialidade e autoria dos fatos ora investigados encerrando por fim esta investigação”.
Delegado Saraiva – “A deputada Carla Zambeli pega umas coisinhas, assim soltas, e tenta criar um… (risos no plenário) Acho que nem ela acredita no que fala. É claro, se uma empresa é processada 200 vezes, se ela ganhar uma a lei da probabilidade explica isso”.
Deputado Nelson Barbudo (PSL) – “Costumo dizer que quando a gente muda, o frango coloca o pescoço pra fora do caminhãozinho de mudança. E quando a gente coloca o pescoçinho pra fora de onde não deve, vem a pancada quando o senhor menos esperar”.
Delegado Saraiva – “A falta de uma argumentação lógica leva a se buscar uma questão ideológica para a atuação de vários servidores públicos. Eu não tenho viés ideológico algum, meu partido é o Brasil, a Amazônia e a lei”.