(*) Fernando Benedito Jr.
As manifestações contra o governo, o fascismo e o racismo foram apenas uma amostra grátis do que está por vir. Um sinal do que vai acontecer nas ruas do país quando passar o medo pelo contágio do coronavirus, o medo da ação violenta da policia, do governo usar os atos eventuais desacertos ou provocações para dar um golpe ainda mais duro na democracia.
As avaliações são de que as manifestações poderiam ter sido maiores. São comparadas às jornadas contra Dilma, aos movimentos estudantis contra o desmonte das universidades. Mas não faz sentido, porque eram realidades diferentes. E além da pandemia e dos outros temores, os movimentos antifascistas e antirracistas tiveram que enfrentar a si próprios. Não foram poucas as lideranças, influenciadores e formadores de opinião, partidos e organizações populares que não aderiram e desestimularam a ida às ruas. E com certa razão. As aglomerações não contribuem para conter o avanço do coronavírus, ao contrario, estimulam sua rápida propagação. O isolamento social é uma bandeira de quem foi às ruas. É, portanto, uma contradição que só foi cometida para dar um basta, para sinalizar que as ruas não pertencem apenas aos bolsonaristas e ao fascismo violento e torpe, mas também aos que prezam e defendem a democracia, a igualdade racial, os direitos humanos, a paz, o meio ambiente…
O governo miliciano e genocida, claro, vai fazer seu papel de sempre, estimulado pelo “gabinete do ódio”, de tentar desqualificar as manifestações como “vandalismo dos vagabundos comunistas”, patrocinados pela China e por Cuba. Vai tentar destruir a reputação da oposição, desqualificar suas lideranças, destruir suas bandeiras. É o que sabe fazer melhor, destruir.
O governo não vai ver nem ouvir o que se passa nas ruas. Prefere o diálogo de surdos no “cercadinho”, onde fala o que quer, ouve bajulações e pedidos de intervenção militar (como se já não houvera), fechamento do Congresso, do STF, armamento e outras estultices anti-democráticas.
Quando tudo isso passar – a pandemia e o isolamento -, será pior. O país estará em bancarrota, a economia reduzida a pó de cloroquina. Nem o nióbio, nem as granadas de paulo guedes, nem os fuzis ZIG Sauer de eduardo bolsonaro nos salvarão. Estaremos em frangalhos. E tensos.
O país continuará desgovernado e aí, sim, bolsonaro sentirá a ira do povo nas ruas. Para ele e os seus, talvez seja tarde demais. Na verdade, já é.
(*) Fernando Benedito é editor do Diário Popular.