Cultura

“Sem Amor” e “Cinquenta Tons de Liberdade” chegam aos cinemas

“SEM AMOR” – Vencedor do Prêmio do Júri em Cannes 2017 e um dos favoritos ao Oscar de filme estrangeiro 2018, o drama do russo Andrey Zvyagintsev é um doloroso estudo do mal-estar político e social de uma nação na embalagem de um drama.
Boris e Zhenya (Alexey Rozin e Maryana Spivak) são um casal que se odeia, em vias de se divorciar, o que acaba afetando seu filho de 12 anos (Matvey Novikov). Depois de presenciar, escondido, uma discussão feroz entre os pais, sem que eles saibam, o garoto desaparece. Teria fugido ou sido sequestrado?
A polícia é acionada e a vida dos protagonistas e de alguns personagens ao redor deles desaba. Notícias na televisão dão conta do estado do mundo em 2012, quando se passa a trama. Nada vai bem, nem na vida pessoal ou na geopolítica global. A questão é que Zvyagintsev cruza as duas esferas de maneira intoxicante, num filme exasperante que não está interessado em trazer respostas, nem conforto. Aí reside sua maior qualidade.

“CINQUENTA TONS DE LIBERDADE” – Libertos finalmente – essa é a sensação geral ao final do terceiro e último filme da série “Cinquenta Tons de Cinza”. Todos estão livres: Anastasia (Dakota Johnson), Christian Grey (Jamie Dornan) e especialmente o público. A conclusão desse conto de fadas sadomasoquista não guarda nenhuma surpresa, nem traz novidades – nem para as estripulias sexuais da dupla.
Ana e Grey se casam, o que parece abrir as portas para ele abusar ainda mais dela – não apenas no Quarto Vermelho. As fantasias sexuais consentidas são o de menos. O problema é ela ficar casada com um homem que tenta impedi-la de sair de casa para dar atenção apenas a ele.
Uma subtrama de suspense envolvendo o ex-chefe de Ana (Eric Johnson) ajuda a espichar os inexplicáveis 105 minutos de filme. A direção de James Foley (o mesmo do segundo filme) é incapaz de trazer algo de excitante – nem mesmo nas cenas de sexo (mecânicas e enfadonhas), que são a suposta razão de ser da trilogia.

“O SACRIFÍCIO DO CERVO SAGRADO” – Um dos diretores gregos mais prestigiados no cenário internacional, Yorgos Lanthimos oferece aqui seu filme mais duro. Com um rigor implacável, ele compõe o drama da família do cirurgião cardiovascular Steven Murphy (Colin Farrell) ao ser confrontada com a expiação de um erro do patriarca.
Premiado em Cannes 2017, o roteiro, como nos filmes anteriores do diretor – “Dente Canino” (2009), “Alpes” (2011) e “O Lagosta” (2015) -, é assinado a quatro mãos por Lanthimos e Efthymis Filippou e impregnado de tragédia grega. No caso, a de “Ifigênia”, de Eurípides, cujo tema explica o título do filme.
A ideia de sacrifício vai se evidenciando à medida que ficam claros os motivos do relacionamento entre o médico e um adolescente de 16 anos, Martin (Barry Keoghan), cujo pai morreu em cirurgia de Steven, alguns anos atrás.
A princípio, Steven acolhe o rapaz, inclusive em sua casa, junto a sua mulher, Anna (Nicole Kidman), uma oftalmologista, e seus filhos, Kim (Raffey Cassidy) e Bob (Sunny Suljic).
Na cabeça de Martin, trata-se de um jogo de substituições que, não sendo aceito em seus termos, leva-o a transformar-se num perturbador agente de vingança. Como sempre nos filmes de Lanthimos, introduz-se um elemento fantástico, aqui a misteriosa doença que acomete os filhos do casal de médicos.

“O INSULTO” – Um dos cinco concorrentes ao Oscar de filme estrangeiro 2018, o drama libanês de Ziad Doueri explora as vertentes da dolorosa polarização que opõe cristãos locais e muçulmanos palestinos, um dos subprodutos da guerra civil que abalou o Líbano entre os anos 1970 e 1990.
O conflito central acontece entre um mecânico cristão, Tony Hannah (Adel Karam), e um empreiteiro palestino, Yasser Salameh (Kamel El Basha, prêmio de melhor ator no Festival de Veneza 2017). Encarregado de obras de renovação do bairro cristão, Yasser é molhado na calçada pela água vinda de uma calha ilegal, que pertence ao terraço de Tony. O empreiteiro oferece-se para resolver o problema sem custos, mas Tony não quer nem ouvir falar de um palestino entrando na sua casa.
Como a questão deve por força ser resolvida, os pedreiros realizam o conserto externo da calha. Quando Tony percebe, arrebenta a obra, enfurecendo Yasser, que termina xingando-o.
Está armado o palco de uma disputa acalorada, que a empresa responsável pelas obras pretende resolver o mais rápido possível com um pedido de desculpas de Yasser a Tony. Muito a custo convencido a fazê-lo, Yasser é novamente provocado pelo cristão.
Desta vez, Yasser o atinge com um soco. A situação rende um rumoroso caso no tribunal, transformado num palco político, que permite uma profunda reflexão sobre os riscos da polarização.

“O QUE TE FAZ MAIS FORTE” – Jake Gyllenhaal interpreta nesse drama uma figura real, Jeff Bauman, que perdeu suas duas pernas no atentado na maratona de Boston, em 2013. Ele estava lá torcendo pela namorada, Erin (Tatiana Maslany). Poucos dias depois, ainda no hospital, dá um depoimento ao FBI, ajudando a capturar o terrorista sobrevivente.
Dirigido por David Gordon Green, o filme acompanha o processo doloroso da recuperação de Jeff e suas idas e vindas com Erin. Ele se torna uma espécie de garoto-propaganda do slogan “Boston Strong” (Boston Forte), mesmo que à sua revelia.
Gyllenhaal oferece, mais uma vez, uma performance esforçada, mas seu trabalho não é capaz de superar a limitação das escolhas do diretor, que transita, de um lado, entre o exagero emocional, bandeiras nobremente tremulantes como símbolo de resiliência e, de outro, a dor e confusão de um homem tentando se recuperar de uma tragédia. A segunda narrativa é mais interessante, mas é completamente cooptada pela outra.

Você também pode gostar

PHP Code Snippets Powered By : XYZScripts.com