Cidades

“Rodrigo Neto morreu porque feriu interesses de poderosos”, diz Durval

O deputado Durval Ângelo adianta que na 2ª quinzena de março pretende fazer uma nova uma audiência pública para discutir o Caso Rodrigo Neto     (Crédito:Pollyanna Maliniak/ALMG)

(DA REDAÇÃO) – O deputado estadual Durval Ângelo (PT), integrante da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, esteve ontem em Santana do Paraíso, onde participou de solenidade no município. Durante o evento ele concedeu entrevista ao “Diário Popular” falando sobre o Caso Rodrigo Neto, que completa um ano neste dia 8 de março. Durante a entrevista,

Durval sustentou que Rodrigo morreu em função de seu trabalho como repórter investigativo e foi taxativo em dizer que todo crime de pistolagem tem um mandante. Segundo ele, houve um pacto de silêncio e falta de interesse em continuar as investigações porque elas envolveriam pessoas poderosas da política regional. “O que caracteriza o crime de pistolagem? É exatamente o fato de ele nunca ter essa espontaneidade. Ele é sempre planejado, sempre tem uma rede de comando, de mando e execução. Essa relação de mando e execução é clara”, afirma.

DIÁRIO POPULAR
– Deputado, um ano depois da morte do jornalista Rodrigo Neto e do repórter fotográfico Walgney Carvalho, como senhor avalia os desdobramentos do caso e a prisão dos executores?

DURVAL ÂNGELO – Um ano. 365 dias da morte do jornalista Rodrigo Neto. O que eu disse no dia seguinte à morte, no dia 9, é o que eu repito hoje novamente e repeti durante toda a investigação: Rodrigo Neto morreu por causa de seu trabalho como jornalista investigativo, que defendia a sociedade e com isso ele se chocou com setores violentos e marginais das polícias e com um setor criminoso da política regional. Ele morreu por causa disso.

As investigações mostraram que nós estávamos certos desde o início. As investigações levaram às pistas que nós recebemos anonimamente e confirmaram as suposições que tínhamos. Ele morreu em função disso.
Agora, a grande questão: Por que não se chegou até os mandantes ? Por que os executores estão presos e os mandantes, não? É muito simples. Os mandantes são pessoas de poder na estrutura das polícias e na estrutura de poder na política regional do Vale do Aço. Então, os criminosos tem nome e sobrenome. Por que os executores não quiseram falar? Usaram o pacto do silêncio e não houve interesse em continuar com as investigações.

Sobre aqueles crimes todos que o Rodrigo denunciava, cinco ou seis ficaram sem apuração, como a Chacina de Belo Oriente, que eu acompanhei desde o início. Por que isso? Porque estes crimes dariam nexo com o assassinato do próprio Rodrigo Neto e também do repórter fotográfico Walgney Carvalho. Então, eu acho que é interessante essa barreira de tempo que acontece. Ele morreu porque feriu interesses de poderosos que continuam no poder na região.

DIÁRIO POPULAR – Há uma tese de que o assassinato teria sido cometido por “peixes pequenos” da banda podre da polícia. Uma decisão que teria sido tomada numa roda de cachaça, portanto, sem mandantes, mas uma ação espontânea, isolada e descoordenada. O senhor acredita nesta tese?

DURVAL ÂNGELO – Olha, tem 26 anos que estou na política partidária. Tem 20 anos que sou deputado estadual e integrante da comissão de diretos humanos. Tenho quase 40 anos na luta pelos direitos humanos e temos acompanhado muitos crimes e assassinatos pelo Brasil, crimes de pistolagem. Inclusive, alguns dos quais nos deslocamos pessoalmente para apurar. Eu trabalhei na Comissão Pastoral da Terra e acompanhei muitos crimes denunciados pela CPT. Seria inédito!

Se a morte de Rodrigo Neto tivesse acontecido aleatoriamente seria o primeiro crime de pistolagem que acontece desta forma. O que caracteriza o crime de pistolagem? É exatamente o fato de ele nunca ter essa espontaneidade. Ele é sempre planejado, sempre tem uma rede de comando, de mando e execução. Essa relação de mando e execução é clara. Envolve pagamento, envolve recursos financeiros. Então, não acredito nessa espontaneidade e isso seria inédito em relação a crimes de pistolagem no Brasil. Nós teríamos aqui, um caso único, no Vale do Aço. E aí seria forçar demais a nossa inteligência e a inteligência de quem nos ouve e nos lê falando sobre este caso. Não existe nada espontâneo em crime de pistolagem!

Vamos realizar na 2ª quinzena de março uma nova audiência pública para discutir o Caso Rodrigo Neto. Vamos convidar todos os personagens e pretendemos, se tivermos autorização judicial, levar à audiência os executores para eles também falarem, ou não falarem, calarem-se diante da sociedade.

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