(*) Thales Aguiar é jornalista e escritor.
Caros leitores, a denúncia feita pelo influencer Felipe Bressanim Pereira o “Felca” sobre a “adultização” de crianças nas redes sociais reacende com força o debate sobre a regulação das plataformas digitais no Brasil. Seu vídeo, publicado em 6 de agosto de 2025, que acusa influenciadores como Hytalo Santos de expor menores em contextos sexualizados, já superou mais 20 milhões de visualizações em poucos dias. Ao mostrar que algoritmos contribuem para a disseminação desse tipo de conteúdo, Felca expõe não apenas práticas abertamente ofensivas, mas falhas estruturais das plataformas. O impacto foi imediato no cenário político. O presidente da Câmara, Hugo Motta, comprometeu-se a pautar projetos relacionados à adultização infantil ainda naquela semana. No Senado, já foi anunciada uma proposta inspirada no caso a “Lei Felca” que visa criminalizar e endurecer sanções contra quem exploram ou sexualizam crianças na internet. Autoridades como a primeira-dama Janja Lula da Silva destacaram a urgência da regulação, afirmando que proteger a infância virtual não pode se transformar em mero pretexto para disputas políticas.
A Justiça também já começou a agir. Uma liminar determinou a suspensão das redes sociais de Hytalo Santos e afastou menores dele, além de proibir que os conteúdos gerem monetização. Esses movimentos evidenciam um consenso crescente de que o modelo atual baseado na autorregulação das big techs é insuficiente para garantir a segurança das crianças. Ainda assim, a resistência persiste. O lobby das plataformas digitais continua atuante, tentando frear legislações mais rigorosas. Por outro lado, especialistas e representantes da sociedade civil reforçam que liberdade de expressão não pode justificar a disseminação de abuso, fake news ou discurso de ódio.
Do ponto de vista político, esse momento mostra um alinhamento incomum entre diferentes espectros ideológicos de setores conservadores preocupados com valores morais a vozes progressistas centradas na proteção de direitos em prol da regulação. Contudo, regular redes sociais é tarefa complexa. Requer um equilíbrio entre prevenção de abusos e garantias de expressões legítimas, além de instrumentos de fiscalização eficazes, como exigências claras de transparência e de atuação proativa das plataformas diante de conteúdos abusivos. Também é fundamental investir em educação digital para que famílias, escolas e jovens reconheçam sinais de exploração e saibam como agir.
Em síntese, o “efeito Felca” transcende uma simples denúncia catalisou uma resposta política e jurídica que coloca o Brasil diante de um divisor de águas na governança digital. É hora de transformar essa oportunidade em legislação robusta, que preserve a infância, reafirme a soberania digital e leve as big techs ao cumprimento de sua responsabilidade social.
(*) Thales Aguiar é jornalista e escritor. Especialista em Ciência Política