quinta-feira, fevereiro 20, 2025
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Reforma política: O remédio certo ou apenas um paliativo?

Caros leitores, a cada novo ciclo político nos deparamos com debates sobre reforma política. Mudanças no sistema eleitoral, regras para partidos e até a idade mínima para candidaturas são discutidas no Congresso, mas a grande pergunta permanece: essas reformas atacam de fato os principais problemas da nossa política ou são apenas ajustes superficiais? A proposta atual traz pontos interessantes, como a possibilidade de reduzir a idade mínima para candidatos à presidência e ao Senado. Isso abriria espaço para lideranças mais jovens, renovando o cenário político. Mas será que essa mudança isolada é suficiente? O problema da política brasileira não está apenas na idade de seus representantes, mas sim no modo como os partidos funcionam e na falta de conexão entre eleitos e eleitores.

Outro aspecto frequentemente debatido é a cláusula de barreira, que limita a atuação de partidos pequenos e busca reduzir a fragmentação do Congresso. Hoje, temos cerca de 29 partidos, muitos deles sem identidade ideológica clara e servindo apenas como legenda de aluguel. Em teoria, restringir o acesso ao fundo partidário e ao tempo de TV pode fortalecer as siglas realmente representativas. Mas será que isso resolve o problema da governabilidade ou apenas concentra poder nas mãos dos partidos tradicionais? A fidelidade partidária também é um ponto crucial. No Brasil, trocas de partido são comuns e muitas vezes motivadas por interesses individuais, não por afinidade ideológica. Isso fragiliza a confiança do eleitor e enfraquece os compromissos assumidos durante a campanha. Se quisermos um sistema político mais sólido, é fundamental estabelecer regras mais rígidas para migração entre legendas.

Ponto crítico também é a falta de participação popular nas decisões políticas. O Brasil tem mecanismos como plebiscitos e referendos, mas seu uso é raro. A população continua distante das grandes discussões nacionais, e a sensação de que os políticos legislam para si mesmos só aumenta. Uma verdadeira reforma política deveria incluir formas mais diretas de participação, garantindo que o eleitor tenha mais voz não apenas no voto, mas também na fiscalização e no acompanhamento das decisões. Mas há uma questão maior que nenhuma reforma política consegue resolver sozinha: a corrupção.

Se a corrupção continuar sendo o pano de fundo de todas as decisões, nenhuma mudança será suficiente para restaurar a credibilidade do sistema. A reforma política pode ser necessária, mas sem um compromisso real com a ética e a transparência, continuará sendo apenas uma promessa vazia. O problema central da política brasileira não está apenas nas regras do jogo, mas na forma como ele é jogado. Sem um combate efetivo ao uso da máquina pública para fins pessoais, ao financiamento ilícito de campanhas e à falta de transparência na atuação dos políticos, qualquer reforma será apenas um remendo temporário. E aí, leitor, você acredita que essas mudanças podem realmente transformar o sistema político brasileiro? Ou seriam apenas uma forma de dar a impressão de que algo está sendo feito, sem enfrentar os reais desafios que corroem nossa democracia?

(*) Thales Aguiar é jornalista e escritor

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