terça-feira, novembro 11, 2025
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Quem moldou nossa forma de pensa – e quem lucra com isso?

(*) Mauro Falcão

Há algo inquietante na forma como fomos moldados a pensar e agir. Essa inquietação me acompanha há anos, especialmente quando observo o modelo de formação acadêmica — sobretudo nas áreas da saúde. Afinal, quem decidiu o que devemos aprender? Quem escolheu as disciplinas que moldam nossa visão de mundo?

Quando questionei professores universitários, descobri que não eram consultados sobre a construção das grades curriculares. As decisões vêm de cima: coordenação, conselhos profissionais, ministérios — todos alinhados a diretrizes que não nasceram aqui. Então surge a pergunta: quem moldou o modelo global de formação profissional?

A resposta é desconcertante, embora silenciosa: o lobby empresarial norte-americano. Desde o pós-guerra, grandes corporações passaram a investir pesadamente em universidades, financiando pesquisas, cursos e estruturas acadêmicas. Aos poucos, eliminaram cadeiras que não geravam retorno econômico. Assim, a medicina alopática se consolidou como hegemônica. Não é um ataque à alopatia, cuja eficácia é comprovada, mas uma constatação: ela é a única que depende de medicamentos e, portanto, movimenta o mercado.

Esse modelo explica por que certas doenças permanecem sem cura. O caso do HIV é emblemático: desde os anos 1990, as terapias apenas melhoram a qualidade de vida, mas a cura nunca chega. E talvez a pergunta mais incômoda seja esta: por que investir em novos tratamentos se o atual já rende bilhões por ano?

Com o tempo, ciência e economia se entrelaçaram, criando o que poderíamos chamar de “sustentabilidade empresarial do saber”. Esse fenômeno opera como uma rede neural do inconsciente coletivo, conectando mentes pela repetição de ideias e crenças impostas (efeito manada). A uniformidade de pensamento torna-se autossustentável — quem pensa diferente é expulso da rede. O que antes era busca por conhecimento transformou-se em engrenagem de investimento e consumo.

O aspecto mais sutil dessa estratégia é que ela utilizou conhecimentos psicológicos proibidos na própria formação profissional. Pensadores como Jung e Gustave Le Bon, que estudaram o inconsciente coletivo, tiveram suas ideias retiradas das graduações. O paradoxo é cruel: suas teorias serviram para moldar o pensamento, mas foram vetadas a quem poderia compreendê-las. Ambos alertavam sobre o poder de manipulação das multidões — e foram silenciados, junto com a Filosofia. 

Saliento, que não se trata de má-fé dos profissionais da saúde ou dos pesquisadores — a maioria é movida por genuíno desejo de curar. O problema é estrutural: o sistema foi construído para que todos, mesmo com boas intenções, operem dentro de uma engrenagem invisível que sustenta o ciclo econômico da doença.

Essa é a matrix que habitamos sem perceber: um sistema que usa o saber para nos afastar do próprio conhecimento. Rompê-la exige reintegrar Filosofia e Psicologia profunda às formações, para que o homem volte a pensar livremente. Pensar, afinal, é o primeiro passo para acordar.

Mas cuidado: contestar o sistema ainda é perigoso. Você pode ser chamado de “herege” e queimado simbolicamente — cancelado nas redes, desacreditado nos meios “oficiais”, isolado dos espaços de fala. A fogueira mudou de forma, mas o fogo continua o mesmo: é o medo de quem não suporta ver o pensamento livre incendiar o que já estava acomodado.

“A identidade social, é uma construção moldada por forças ideológicas. Quando não há consciência de si, o indivíduo serve ao pensamento dominante sem perceber.”

— Silvia Lane

(*) Mauro Falcão é pesquisador e escritor brasileiro.

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