(*) Fernando Benedito Jr
Do ponto de vista bélico, Vladmir Putin pode até ganhar a guerra contra a Ucrânia, mas claramente já a perdeu moralmente para a opinião pública. De alguma forma, a invasão russa tornou-se rapidamente impopular e antipática aos olhos do mundo, sejam pela forma opresiva e autoritária como foi conduzida por Putin, por ocorrer num momento em que o mundo sequer conseguiu se livrar de uma pandemia que já matou milhões (o que por si só dispensa qualquer guerra), pelo seu caráter expansionista e punitivo e, principalmente, pela morte de civis e destruição de cidades como resultado de bombardeios indiscriminados e impiedosos.
As sanções impostas à Rússia pela União Européia, por outro lado, além dos custos da guerra, vão impor uma grave crise interna a Putin, tanto política, quanto economicamente. Grande parte do povo russo não apoia a guerra e nem Putin. A outra parte vai começar a lhe fazer oposição quando a crise econômica provocar a inflação, escassez de produtos básicos, dificultar as exportações e importações, aumentar o isolamento da Rússia no cenário internacional.
Principal fornecedor de defensivos agrícolas ao Brasil, a Rússia vai deixar o agronegócio brasileiro na mão. O setor já estava em maus lençóis porque as unidades fabris da Monsanto, propriedade da Bayer, outra grande fornecedora não estava atendendo à demanda brasileira, inclusive de glifosato, em razão de problemas técnicos, o que chegou a motivar uma nota de reclamação na página da Aprosoja. Curiosamente, o setor é principal apoiador de Bolsonaro, que foi à Rússia manifestar apoio a Putin às vésperas da invasão na Ucrânia. Trouxe a foto, mas não os defensivos e ainda piorou a situação, deixando seus apoiadores do agro a ver navios. Certamente, Bolsonaro não calculou esta possibilidade, como de resto não calcula nenhuma outra.
Um pouco melhor de cálculo, Putin segue adiante com sua insanidade, mas também erra alvos e isto lhe custa caro e ainda mais caro ao povo russo. Esperava-se que a invasão e tomada da capital, Kiev, fosse coisa de um dia para o outro. Mas as tropas russas enfrentam resistência, o que significa que Putin vai intensificar os ataques, matar e destruir mais e ficar ainda mais impopular.
Ao fim, pode dobrar a Ucrânia, mas tem que envergar junto. Como uma vitória de Pirro, o general que ganhou, mas não levou.
(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP