(*) Fernando Benedito Jr.
O Pará da COP 3 é o cenário da série “Pssica”, em cartaz no streaming Netflix, e o tema não poderia ser mais atual: o tráfico de mulheres, a exploração sexual infantil e a violência desenfreada na região. A série em quatro capítulos é uma adaptação do livro homônimo do escritor paraense Edyr Augusto Proença. A direção é assinada por Quico Meirelles e Fernando Meirelles, e o roteiro é de Bráulio Mantovani, Fernando Garrido e Stephanie Degreas.
Com as interpretações primorosas de Domithila Cattete (Janalice) na pele da jovem raptada por traficantes de mulheres e da atriz colombiana Marleyda Soto como a ex-guerilheira colombiana Mariangel, “Pssica” é uma série que poderia render mais capítulos (talvez até renda). A fluidez da narrativa, a qualidade do elenco, a agilidade da ação e, claro, o cenário natural de Belém do Pará, do Pantanal e da Guiana Francesa (menos) são elementos que validam a história, mesmo com toda a crueza da violência e da pirataria nos rios e terras “pa’ra-waras”.

Se a realidade nua e crua relatada na série vai empanar o brilho da COP 30 não se sabe, é outra história. Mas, não é pior do que a ganância do setor hoteleiro para extorquir dinheiro das comitivas estrangeiras que participarão do evento. Nada muito diferente do que se vê na série, que desfila uma série de personagens típicos do Pará e do Brasil, bandidos, milicianos, políticos corruptos, assassinos, traficantes, ratos de rio que agem impunemente diante da ausência do estado. “Pssica” retrata uma terra sem lei, onde a justiça é feita pelas próprias mãos já que as autoridades não vêm ou não querem ver a realidade e, menos ainda, agir com mãos pesadas para acabar com a delinquência. Em menor ou maior grau, todos estão envolvidos, seja pela cumplicidade ou pela omissão e negligência. A série chama a atenção sobre isso e, nas entrelinhas, sugere que as autoridades não podem deixar as coisas como estão.
Como codiretor e produtor, Fernando Meirelles, dá mais uma contribuição relevante.
Vale a pensa ver “Pssica” para entender o há além da questão ambiental no Pará e na região amazônica.
(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.