(*) Wanderson R. Monteiro
Em toda a história da humanidade a guerra sempre foi um fator desencadeador de inúmeros temores. Nas últimas décadas, as tensões relacionadas às guerras aumentaram consideravelmente, graças ao grande avanço da tecnologia que, inevitavelmente, a partir da Segunda Guerra Mundial, veio a ser usada na produção de armas de destruição em massa.
Recentemente, no governo Trump, além dos constantes conflitos no Oriente Médio, o mundo todo pôde sentir as tensões entre os Estados Unidos e a Coréia do Norte, com ambos os lados demonstrando seu poderio bélico, e sempre trocando ameaças e advertências. Hoje, estamos em meio ao conflito entre Rússia e Ucrânia e, por conta da globalização, além dos temores comuns que as guerras já trazem, aliado aos temores das armas nucleares, o mundo todo tem sofrido as consequências de um conflito, geograficamente tão distante, mas que tem trazido consequências para todo o mundo. O conflito atual entre Rússia e Ucrânia tem algumas características especiais, principalmente analisando o ponto de vista russo no conflito, que pretendo abordar em outros textos. Por hora, tentaremos entender alguns princípios gerais sobre os motivos que levam aos conflitos bélicos.
Dentro desse contexto de conflitos e guerras, é comum que em algum momento a gente se pergunte o “por que” das guerras e conflitos, ou “o que” leva o homem a ser o causador de tantas mortes e destruição, o que o impulsiona a praticar tamanhas barbáries e atos desumanos. Quando nos deparamos com as consequências da guerra, com o resultado final da atrocidade e violência do homem, é praticamente inevitável não nos perguntarmos o que leva o homem a praticar tal destruição, e se existem meios para acabar com as guerras e conflitos.
Tal questionamento foi discutido entre o físico Albert Einstein, e o pai da psicanálise, Sigmund Freud, em duas cartas, escritas em 1932, em que eles conversam sobre o tema “Por que a Guerra?”, cartas que se encontram no livro Novas Conferências Introdutórias sobre Psicanálise e outros Trabalhos.
Além de falarem sobre os motivos que levam à guerra, os dois também propõem e discutem soluções para o fim da existência das mesmas. Neste artigo, será analisada a carta de Einstein, sendo a de Freud, analisada em uma segunda parte, me limitando, nos dois casos, a somente expor as ideias dos dois, procurando evitar, por hora, juízos de valor sobre o conteúdo das correspondências.
Segundo o que diz Einstein em sua carta, sua escolha por Freud, para que trocassem essa correspondência, se deu para que Freud proporcionasse “a elucidação do problema (guerra) mediante o auxílio de seu profundo conhecimento da vida instintiva do homem”. Em sua carta, Einstein nos diz o que ele acreditava serem os motivos que levavam os homens à guerra, para que, em sua resposta, Freud aprofundasse a discussão sobre os motivos para tal ação humana, de acordo com seus estudos e conhecimentos acerca da natureza do ser humano.
Albert Einstein, no início de sua carta à Freud, diz que o assunto por ele escolhido como tema de sua correspondência parecia ser, para ele, “o mais urgente de todos os problemas que a civilização tem de enfrentar. Este é o problema: Existe alguma forma de livrar a humanidade da ameaça de guerra?”
Einstein nos diz que, como forma simples de abordar o aspecto superficial do problema, deveria ser instituído, por meio de acordo internacional, um organismo legislativo e judiciário para arbitrar os conflitos surgidos entre as nações, e que cada nação deveria se submeter à obediência, às ordens dadas por esse organismo legislativo, aceitar irrestritamente suas decisões e colocar em prática todas as medidas que o tribunal considerasse necessárias para a execução de seus decretos. Ele nos apresenta então, o fato de que um tribunal é uma instituição humana que “em relação ao poder de que dispõe, é inadequada para fazer cumprir seus veredictos, está muito sujeito a ver suas decisões anuladas por expressões extrajudiciais”, sendo isso uma dificuldade para a efetividade de tal organismo. Einstein ainda argumenta que a busca pela segurança internacional, e o fim das guerras, envolve a renúncia incondicional, de todas as nações à sua liberdade de ação, e à sua soberania, tendo suas ações limitadas pelo controle exercido pelo órgão legislativo internacional.
Einstein nos diz que parece haver “fatores psicológicos de peso”, que impedem qualquer esforço para alcançar tal renúncia e, consequentemente, o fim das guerras. Como um desses fatores psicológicos, ele nos apresenta o “intenso desejo de poder”, que a classe governante das nações nutrem, e que esse desejo não tem limites.
Einstein se questiona como que a minoria dominante consegue fazer com que a maioria, a massa, sofra com uma situação de guerra, a serviço da ambição de poucos. Além da utilização de meios de dominação usados pela minoria dominante para dobrar a vontade da maioria, como as escolas, a imprensa e, até mesmo, a igreja, Einstein chega à uma outra idéia que, segundo ele, influencia na adesão das massas a guerra, a ponto de se sacrificarem pela minoria. Segundo seu argumento, o homem encerra dentro de si um desejo de ódio e destruição. “Em tempos normais, essa paixão existe em estado latente, emerge apenas em circunstâncias anormais; é, contudo, relativamente fácil despertá-la e levá-la à potência de psicose coletiva”. Segundo ele, esse instinto agressivo do homem também opera sob outras formas e em outras circunstâncias.
Segundo o que Einstein nos apresenta, e o que a história nos ensina, a ambição humana, o de se impor sobre o outro, a busca incansável pelo poder a qualquer custo, que parece não ter limites, a falta de amor e respeito ao semelhante, movidos por um instinto de destruição e ódio, são alguns fatores que levam os homens à guerra, e que, para evitar tais consequências, os homens, as nações, devem buscar fazer aquilo que para muitos parece ser quase impossível; obedecer às leis, e abrir mão de sua potência, de sua liberdade de agir independentemente de leis, abrir mão de sua soberania, ou seja, controlar, mesmo que por força de lei, seus instintos e desejos mais egoístas e destrutivos.
As leis sempre foram um meio de limitar a potência de alguns para proteger os direitos de outros mais fracos, mas, como na dificuldade encontrada pelo próprio Einstein, o tribunal é formado de homens, e que esses sempre tendem a ser influenciados por questões extrajudiciais, e o próprio desejo poder, também se encontra aqui como um grande fator de influência.
Para viver em unidade, seja nas relações na comunidade local, em âmbito nacional, ou internacional, o outro sempre deverá ser levado em consideração e ser respeitado. Quando uma pessoa, nação, ou nações, passam por cima de todas as leis e considerações ao próximo para impor suas próprias vontades, conflitos e guerras serão sempre inevitáveis.
(*) Wanderson R. Monteiro
(dudu.slimpac2017@hotmail.com)
São Sebastião do Anta – MG