Foto: Cida Lima destacou o papel fiscalizador do mandato e se colocou à disposição da população para acompanhar encaminhamentos – Crédito: Nilmar Lage
Assembleia popular aconteceu na porta da Câmara Municipal de Ipatinga, na Praça dos Três Poderes, após cancelamento da audiência pública
IPATINGA – Representantes de movimentos sociais populares, sindicais, culturais e religiosos, lideranças comunitárias, partidos políticos, usuários e trabalhadores se reuniram na porta da Câmara de Ipatinga para uma assembleia popular sobre o transporte coletivo como direito social da população. O debate ocorreu do lado de fora, em função do cancelamento da audiência pública que seria realizada pela Comissão de Direitos Humanos e Cidadania sobre o tema nesta terça-feira, às 19h30.
DE PORTAS FECHADAS
De acordo Claudio Roberto (47), membro do diretório do Partido dos Trabalhadores de Ipatinga (PT), “a Casa do Povo fechou as portas para o povo, para uma audiência pública que ia debater o direito das pessoas de ir e vir, direito ao trabalho e ao lazer. Mas o povo não se calou e realizou uma assembleia popular para discutir o transporte público na perspectiva da garantia de direitos, pois é por meio dele que a população acessa a cidade e tem condição de viver com mais dignidade”, afirmou o bancário que também representava o sindicato da categoria.
RESPEITO
“Realizamos essa conversa do lado de fora da Câmara como sinal de respeito à população. Nosso mandato está cumprindo seu papel fiscalizador, acolhendo as demandas e se colocando como elo entre a população e o executivo”, defendeu Cida Lima, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania. A vereadora ainda destaca que esta pauta é da comunidade e que o mandado estará junto realizando os encaminhamentos necessários na busca de um transporte coletivo de qualidade social.
HISTÓRICO
Desde novembro de 2021 o mandato da vereadora vem promovendo o debate sobre o tema em diversos espaços da cidade. Naquele mesmo mês, uma audiência foi realizada na Câmara pela Comissão de Transporte e Urbanismo contanto somente com a presença de representantes da empresa e da prefeitura. Em função disto, integrantes do Fórum em Defesa da Vida protocolaram um ofício solicitando que uma nova audiência fosse realizada, desta vez pela Comissão de Direitos Humanos e Cidadania. O objetivo é que fosse dado destaque às pautas que realmente interessam a quem utiliza o serviço, além de trabalhadores da concessionária, no entanto a presidência da Câmara não permitiu que a audiência acontecesse, alegando que a discussão não cabia à comissão.
Neste ano, com o intuito de ouvir a população, o mandato da vereadora Cida Lima, realizou plenárias em diversos bairros da cidade. A nova audiência pública requerida pela comissão era um dos encaminhamentos retirados de uma sequência de encontros com a população. As queixas mais frequentes foram quanto à falta de horários que atendam às demandas da população, o alto valor das passagens, a qualidade dos carros, a infraestrutura dos pontos e a retirada dos cobradores de alguns itinerários, entre outros.
PARTICIPAÇÃO
Mesmo com o novo impedimento de que a comissão conduzisse a audiência, a população marcou presença numerosa na porta da Câmara de Ipatinga. Também compareceram representantes de movimentos sociais, religiosos, culturais e comunitários, e entidades convidadas a compor a mesa debatedora, como o diretor do SECI (Sindicato dos Comerciários de Ipatinga), Aurélio Moreira de Souza, o presidente do Conselho Municipal do Idoso, Vasco Lagares, e o integrante do Fórum em Defesa da Vida, Robson Ayres. Uma assembleia popular foi realizada para que todos que desejassem expusessem seus pontos de vista.
DEPOIMENTOS
O senhor João Carijó, de 82 anos, fez questão de ficar até o final e relatar sua experiência como usuário do serviço. “Agora o motorista tem que dar o troco, ajudar os passageiros, os portadores de necessidades especiais e continuar dirigindo. Com isso, começaram a acontecer acidentes graves dentro dos ônibus, como pessoas presas nas portas e quedas de idosos”, contou o morador do Morro São Francisco, no Bethânia.
Na opinião de Silvana Rodrigues, de 46 anos, moradora do Barra Alegre, o transporte em Ipatinga é feito para atender somente o horário do comércio, já que no fim de semana possui raros horários para atender à comunidade do bairro. “Nos finais de semana o trabalhador não tem o direito de ir e vir, não pode ir à igreja em outro bairro, não pode ir ao shopping, não tem direito a momentos de lazer”, declarou.
“Essa audiência já era para ter sido realizada desde o ano passado e foi cancelada. Este ano a expectativa era grande em torno da audiência em que seriam ouvidos vários setores da comunidade, entre eles trabalhadores e trabalhadoras, entidades de classe, a empresa. A gente não pode se calar e, mesmo do lado de fora, a gente veio para brigar e lutar pelos nossos direitos”, desabafou Natália Fonseca, de 35 anos, moradora do Canaã e mãe de duas crianças que pagam passagem.
Após o diálogo, os participantes retiraram novas agendas para ampliar o debate, levando a assembleia popular para mais bairros de Ipatinga e cobrando do executivo a fiscalização e o cumprimento do contrato com a concessionária do transporte coletivo na cidade.