Levantamento com 2.209 docentes de 660 cidades de Minas mostra que 94,6% vê prejuízos no uso inadequado dos celulares pelos estudantes
Uma pesquisa realizada pelo Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG) revela que a ampla maioria dos educadores é contra o uso dos celulares em salas de aula ou no ambiente escolar e consideram que sua utilização pelos alunos prejudica o processo de ensino-aprendizagem. Conforme a pesquisa, 94,6% confirmam que há prejuízos no uso inadequado de celulares em escolas, enquanto 5,1% responderam que não. A pesquisa foi realizada com apoio da plataforma Google Forms e contou com a participação de 2.209 educadores das redes estadual e municipal, de 660 cidades mineiras
PREOCUPAÇÕES
A pesquisa questiona ainda aos docentes quais são as suas principais preocupações com o uso de celulares no ambiente escolar e as respostas variaram da falta de atenção e concentração no conteúdo apresentado às questões disciplinares e até como forma de intimidação.
FALTA DE FOCO
Para 62,3% dos educadores a falta de atenção e concentração nas aulas é o principal problema. Eles afirmam que os celulares comprometem a atenção e o foco dos alunos, desviando-os do
conteúdo pedagógico e dificultando a concentração.
Já para 17,0% o problema é o uso para entretenimento. Os professores relatam que os alunos utilizam os celulares para redes sociais, jogos e outras atividades não relacionadas ao aprendizado, o que compete diretamente com as atividades escolares.
INDISCIPLINA
Outros 6,5% dos docentes destacam o desrespeito e indisciplina. Eles observaram que o uso de celulares interfere na disciplina em sala, promovendo comportamentos de desrespeito e dificultando a gestão da autoridade do professor.
Segundo a pesquisa, 1,4% das respostas incluíram sugestões explícitas para a regulamentação, evidenciando uma preocupação menor com as políticas em comparação ao impacto direto do uso dos celulares no ambiente escolar.
ONDE USAR
Outra pergunta feita pela enquete foi sobre como e onde deve ocorrer a regulamentação do uso de celulares, um tema divergente entre os educadores. Entretanto, a maioria, 63,8% defende que a regulamentação ou proibição do uso de celulares deve ser aplicada em todo o ambiente escolar, abrangendo desde as salas de aula até outros espaços. Já 36,2% acreditam que a regulamentação deve ser restrita apenas às salas de aula, permitindo maior flexibilidade no restante do ambiente escolar.
PANDEMIA
A diretora de Comunicação do Sind-UTE/MG, Marcelle Amador, considera o excesso do uso de telas um problema pandêmico e que impacta as pessoas de diversas maneiras. “Se os adultos são afetados de maneira muito forte, imagine as crianças, adolescentes, que estão em fase de desenvolvimento, de aprendizado“, compara.
Ela justifica a realização da pesquisa como uma forma de contribuir para o debate que está em pauta para a toda a sociedade e tornou-se Projeto de Lei em tramitação na Câmara dos Deputados. A proibição do uso de celulares em ambientes escolares também já vem sendo adotada por algumas escolas, estados e municípios. “Para não ficar somente no achismo, o que a gente pensa, o que a gente sente, o SindUTE/MG tem a responsabilidade analisar como a categoria está pensando o tema. Como os trabalhadores da educação estão vendo este PL, este excesso do uso do telefone. Por isso resolvemos fazer uma pesquisa entre a educadores sobre o assunto”, explica.
Marcelle Amador disse que a metodologia da pesquisa adotou perguntas baseadas no PL, para saber o que pessoa pensa sobre os temas mais relevantes e onde ela está em MG.
“Dos mais de 2 mil pesquisados, foram majoritárias as respostas dizendo que o uso de celulares no ambiente escolar causa prejuízos. A maioria respondeu sim e quando respondeu não se contradizia, porque tem perguntas mais específicas, como a que pede para apontar os principais impactos negativos e foram maciças também as respostas dizendo que o uso de celulares causa falta de atenção, é feito de forma inapropriada ou mesmo que alunos gravam os professores como forma de intimidação”, comenta.
PROIBIR É O CAMINHO?
No sentido de aprofundar o debate sobre o tema, Marcelle Amador,
questiona se proibir o uso de celulares no ambiente escolar é a solução. “Será que educar não é o caminho?”, provoca, destacando que também é preciso colocar em discussão que até hoje não existe uma educação tecnológica, uma formação digital dos alunos, as escolas não tem sala de informática adequada, salas de multimeios, nem capacitação dos trabalhadores de educação sobre o tema. “São várias questões que permeiam o assunto, que o Sindicato acredita que é mais importante do que simplesmente proibir. Proibição não vai solucionar”, afirma.
Para Marcelle Amador uma proposta possível “é uma educação digital responsável, uma boa conexão nas escolas, o equilíbrio entre a tecnologia e a aprendizagem. O caminho deve ser construído entre as pessoas envolvidas e não ser uma determinação de cima para baixo, simplesmente de uma proibição”.
OPINIÕES
À pergunta aos educadores se suas experiências em sala de aula
confirmavam os estudos que indicam prejuízos no uso inadequado de
celulares em escolas, as respostas seguem diversas tendências, veja algumas delas:
“O mundo moderno está cada vez mais tecnológico. Ao invés de proibir deveria ensinar a usar e explorar os benefícios quanto ao uso da tecnologia”.
Professor de Divinópolis
“Se bem direcionado pode ser um benefício”.
Professora de Teófilo Otoni
“Proibição não é garantia de dedicação”.
Professora de Três Marias, afirmando que a proibição do uso de celulares não é garantia de atenção dos alunos.
“O celular não deve ser usado nem para fins pedagógicos”.
Professor da Santa Luzia
“Capacitação permanente dos professores para o uso de tecnologias e metodologias inovadoras. Participação dos estudantes na definição das regras, a partir da informação e reflexão sobre o uso dos recursos tecnológicos”.
Professora de Santana do Riacho