Foto: Cidade de Almenara, no Vale do Jequitinhonha
BH – Narrativas orais gravadas ao longo de uma década (de 1987 a 1997) no Vale do Jequitinhonha estão disponíveis para acesso público no site do projeto Polo Jequitinhonha UFMG. As gravações, que estavam armazenadas em fitas K7, foram capturadas e convertidas para o formato MP3. Juntamente com as transcrições dos áudios, o material integra o recurso educacional Narrativas em rede, desenvolvido pelo pesquisador Cleomar Poletto no Programa de Mestrado Profissional em Educação e Docência da Faculdade de Educação (Promestre/FaE) da UFMG.
O autor explica que seu trabalho também abrange a análise do material. “Eu percebi que existia algum diferencial na língua que merecia ser pesquisado. Então, conjugando o objetivo de salvaguardar essas narrativas e de fazer uma dissertação, eu procurei a inserção no Promestre, atendendo também ao propósito de criar um produto educacional”, conta.
NARRATIVAS
As narrativas analisadas na dissertação de mestrado foram gravadas nas décadas de 1980 e 1990 pelas equipes de dois projetos de pesquisa: Literatura oral e Quem conta um conto aumenta um ponto. A equipe deste último também foi responsável pelas transcrições de 200 dos 255 contos que constituem as Narrativas em rede, com o cuidado de preservar as marcas da oralidade nos textos. “Eles conseguem, brilhantemente, materializar na escrita uma língua que é falada”, destaca o pesquisador.
Poletto ressalta a importância do recurso educacional para difundir a diversidade da língua nas escolas. “As variedades linguísticas são tratadas com estigma, com preconceito, até mesmo na escola. Falar outra variedade é um problema, o professor corrige. Então, o corpus da pesquisa e a dissertação apontam que todas as variedades da língua são importantes”, afirma.
HISTÓRIAS DO VALE
As gravações foram realizadas em dez municípios da região: Araçuaí, Capelinha, Chapada do Norte, Diamantina, Itamarandiba, Jenipapo de Minas, Malacacheta, Minas Novas, Rubim, Serro e Turmalina. Segundo Poletto, o acervo, que reúne aproximadamente 168 mil palavras, ajuda a resgatar a memória da região.
“As narrativas contam a história do Vale, daquele povo. A massa de tropas que saía de Diamantina e seguia até Teófilo Otoni, por exemplo. Elas falam da chegada de outros meios de locomoção, como o carro, e dos homens que vão abrindo as estradas no Vale”, revela Poletto, que também dedicou um capítulo às histórias das pessoas que narram os contos registrados.
O trabalho foi orientado pela professora Maria Gorete Neto, do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino da FaE. Saiba mais sobre o estudo no 200º episódio do Aqui tem ciência, programa da Rádio UFMG Educativa.