(*) Fernando Benedito Jr.
Foto: Os ministros Nunes Marques e Lewandowski durante sessão do Supremo – Crédito: STF
Os dois ministros terrivelmente bolsonaristas e evangélicos do Supremo Tribunal Federal (STF) Kássio Nunes Marques e André Mendonça, depois de derrotados na tentativa de reverter a cassação do deputado aliado Fernando Francischini (União Brasil-PR) por fake news, agora colocaram em pauta o caso do deputado Valdevan Noventa (PL) que já estava arquivado, para também tentar devolver o mandato ao igualmente aliado de Bolsonaro e, por tabela, dos ministros.
Valdevan Noventa é acusado de ter, durante a campanha eleitoral de 2018, gasto R$ 551 mil, dos quais só R$ 353 mil teriam sido declarados. Segundo as investigações, ele recebeu R$ 85 mil de pessoas físicas, sem origem identificada e de fontes vedadas.
São todos do mesmo campo político. Os ministros, inclusive, estão no lugar errado, deveriam estar na Câmara dos Deputados ou no Senado, para votar conforme o desejo do governo.
Desde que assumiram, ambos não tentam nem mesmo despistar. São visivelmente favoráveis às pautas do governo, sem sequer “discutir o mérito”. Se é de interesse do governo, votam. É a retribuição pelo cargo vitalício, mas já não precisam mais disso. Têm estabilidade no emprego e podem decidir segundo a Constituição, a jurisprudência e suas consciências. Não parece que seja o que tenham feito Nunes Marques e André Mendonça. Os votos demonstram que tem uma dívida de gratidão enorme, que se coloca acima de justiça, de leis, de precedentes em relação a outros julgados, de constitucionalidade. É até feio.
Sistematicamente, desde que assumiram, os juízes bolsonaristas parecem obedecer ordens diretas do Planalto. Desenterram pautas já pacificidadas, provocam a presidência da Corte, desmerecem o próprio cargo e a instituição a qual pertencem.
Bom, mas o fato é que numa só tacada Bolsonaro emplacou no STF dois de seus aliados. É uma cota razoável, mas os “devotos” continuam insistindo na tese de fechamento do STF, em fake news, em questionamento às urnas eletrônicas e ao voto. Em tese, a pauta anti-STF inclui os dois ministros bolsonaristas. Mas isso não parece incomodá-los.
Se os bolsonaristas conseguirem fechar o STF com um cabo e um soldado, quem sabe eles não permaneçam para contar a história.
(*) Fernando Benedito Jr é editor do DP