(*) Fernando Benedito Jr.
A agressão israelense contra o Irã, com apoio dos EUA, alegando a recusa do regime islâmico em parar o processo de enriquecimento de urânio para produção de bomba atômica, está longe da verdade. Antes do ataque ao Irã, o Estado sionista de Israel já vinha provocando o genocídio em Gaza, constantes bombardeios ao sul do Líbano, ao Iemen e a Jordânia e a todos aqueles que considera aliados do Hamas.
Trata-se, antes de mais nada, de uma guerra religiosa e étnica, com motivações econômicas, e claros objetivos de dominação e expansão territorial. A alegação da bomba atômica é apenas uma retórica para justificar a agressão, como fez Colin Powell na ONU com um vidrinho de água suja (apresentado como prova de uma suposta arma química, nunca comprovada) ao justificar a invasão do Iraque, o assassinato de Saddam Hussein e o fim de seu regime.
Obviamente, a não-proliferação de armas nucleares é a política a ser adotada pelo mundo. Mas todas as grandes potências, incluindo Israel e alguns poucos países menos desenvolvidos (Paquistão, Coreia do Norte) a têm em seus arsenais. Entretanto, os velhos senhores da guerra (Trump e Netanyahu) se julgam superiores em sua suprema arrogância. Por que Israel pode ter a bomba e seus vizinhos, não? Qual o grau de civilidade e humanidade do regime israelense para possuir uma bomba atômica? Acaso é melhor que os outros? Não é isso que mostra a política externa de Netanyahu. Ao contrário, o “açougueiro de Jerusalém” tem se mostrado mais terrorista que os terroristas. Suas mãos estão mais sujas de sangue do que as de qualquer dirigente do Oriente Médio na atualidade, por mais radical que seja. O isolamento internacional de Israel é sintomático.
A “sagrada aliança” Israel-EUA, que está mais para um “pacto satânico”, como dizem os islâmicos, pode não ter encontrado um adversário à altura (a reação do Irã ao ataque poderia ser mais contundente), mas vai difundindo o conflito pelo Oriente Médio, numa estratégia geopolítica cujos resultados são imprevisíveis e mal calculados.
Se a ideia é arrastar e justificar a entrada dos EUA no conflito, o jogo fica ainda mais embaralhado. Responsável por uma crise interna nos EUA com sua política anti-migratória, Trump perde apoio a cada dia. Entrar em confronto direto com o Irã não apenas vai contrariar sua promessa de campanha de “America First”, como vai criar um embaraço muito grande, no qual vai ser fácil entrar, mas muito difícil sair, tal qual, no Vietnã, Iraque e Afeganistão.
O jornal israelense “Haaretz” afirma: “Israel não tem necessariamente o poder de fogo necessário para destruir todos os elementos do programa nuclear de Teerã. A menos que o Irã ataque alvos americanos, a próxima fase da guerra está, em grande parte, nas mãos de Donald Trump”.
Diante deste cenário, o mais provável é que a “7ª Cavalaria”, mais uma vez, chegue tarde demais ao forte onde o senhor da guerra israelense está encurralado.
(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.