domingo, novembro 24, 2024
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O tribunal das redes sociais

(*) Fernando Benedito Jr.

O julgamento sem direito à defesa, ao contraditório, ao devido processo legal – sem os trâmites previstos em lei – é comum nas redes sociais. Essa terra de ninguém transformou-se num tribunal de exceção, banalizou-se de tal forma que tornou-se “normal”. Neste terreno, não são necessárias estas “pequenas” preocupações. Todo cidadão se julga no direito de dar uma opinião, não raras vezes transformadas em sentenças, que expressam muito mais do que a condenação. São também um conceito, uma ideologia, uma posição política. E muito raramente levam em conta o bom senso, o sentimento alheio, a dor do outro, muito menos o respeito às opiniões divergentes. A tolerância é zero.

Para citar um exemplo – e só um, já que basta ler os comentários de qualquer notícia que se terá fartura de exemplos de intolerância: uma trabalhadora de uma lanchonete no Rio foi demitida porque não pode sair de casa, no Jacarezinho, sob o fogo cerrado, expondo a si e ao filho aos tiros. Os comentários que se seguiram eram mais ou menos assim: “A patroa estava certa. Tinha que demitir mesmo”, “porque não arruma outro lugar pra morar”, “É traficante também” e por aí afora.

O advento das redes sociais não transformou o mais comum dos mortais somente em juiz, não. São super juízes que querem destituir até os supremos juízes. Entendem tudo de leis, jurisprudências, processos judiciais. Sábios ao extremo, tudo conhecem de matemática, cálculos, ângulos e engenharia. Antes, apenas técnicos de futebol, esta multidão de pessoas conectadas agora também tem opinião formada sobre tudo. Na pandemia, todos são infectologistas e médicos. O jornalismo tal qual o conhecíamos praticamente acabou, já que todos são comunicólogos, embora não respeitem muito bem as regras do bom Português, nem da boa educação e convívio.

O tribunal da internet e das redes sociais derrama tanta “sabedoria” que, se ao invés do ódio destilado, da intolerância, do veneno, da maldade, tivéssemos o contrário, viveríamos no melhor dos mundos, num paraíso de coexistência e de urbanidade. Para desejar o mínimo.

Infelizmente, não é o caso e é difícil prever quando isso mudará. Talvez nunca, a julgar pelo presente – para não fugir à regra.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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