(*) Wanderson R. Monteiro
Uma das grandes constantes da humanidade se baseia na realidade de que toda grande crise desperta no ser humano o desejo por um salvador. Quando as dificuldades aumentam, é comum que um país e, até mesmo a humanidade como um todo, comece a procurar e buscar alguém que nos conduza para fora do caos, mas, em meio ao desespero, esquecemos que essa busca e esse desejo já levaram a sociedade a erros históricos terríveis e irreversíveis. Quando surgem momentos caóticos e turbulentos, muitos supostos líderes surgem prometendo soluções definitivas, e a sociedade, tomada pelo desespero, deposita neles uma confiança cega, na esperança de se ver livre dos males que possam estar lhe afligindo.
E isso não é nada novo, pelo contrário, como dito acima, a busca por salvadores políticos é, assim como as inúmeras crises e dificuldades, uma constante na história. O fenômeno do messianismo político é tão antigo quanto a civilização. A ideia de que um único líder, ou governo, pode corrigir todos os males de uma nação ignora toda a complexidade contida no ato de governar, e ignora, também, os problemas e dificuldades inerentes da própria condição humana, os problemas arraigados no interior do ser humano, coisa que nenhum líder político pode eliminar. Como sabemos, a história está repleta de pessoas e governos que, tendo se apresentado como os “salvadores”, se revelaram extremamente desastrosos, inúmeras vezes perigosos, quando o poder e o “controle” lhes foram concedidos. Em tempos de crise e de caos, o desejo por um líder forte é completamente compreensível, mas devemos entender que, se tratando de governos terrenos, a solução nunca virá pelas ações de um único homem. Na busca de ver os problemas resolvidos rapidamente, muitas vezes nos esquecemos de que governantes não operam milagres e que sistemas políticos corrompidos não são consertados simplesmente por meio de boas intenções.
No Brasil, como temos visto através dos exemplos de nossa história recente, esse desejo por um salvador que irá mudar os rumos de nosso país se torna mais claro em cada ciclo eleitoral. Nesses períodos, a população, cansada dos sofrimentos e de todas as frustrações, projeta sobre determinados candidatos a esperança de uma mudança completa e radical, como se a política fosse movida por um toque de mágica. Mas todo poder absoluto carrega consigo os perigos do abuso e da tirania, pois, ao dar a alguém o título de “salvador”, abrimos mão de nossa própria responsabilidade, e legamos a outro o destino de nossa própria vida. Um dos nossos maiores erros como cidadãos é acreditarmos na ilusão de país que tais líderes nos vendem. Além disso, não basta simplesmente cobrarmos mudanças sem compreendermos os mecanismos que impedem que essas mudanças ocorram. O discurso político sempre será otimista, o líder sempre apresentará como um enviado “enviado de Deus”, ou detentor de poderes divinos, mas a realidade exige um olhar mais atento e cuidadoso, buscando entender as consequências de nossos desejos e, quando levados a cabo, as consequências de nossas escolhas.
A crença na infalibilidade de um líder não apenas nos enfraquece como nação, como também nos torna reféns de nossas próprias ilusões, ou, das ilusões de uma parte da população, já que, como a história nos mostra, na maioria das vezes tais líderes são aceitos sem ressalvas e sem críticas por uma parte da população que o idolatra mesmo que o mesmo cometa erros claros e comprometedores. O perigo desse fenômeno está na centralização do poder. Quando um líder se torna a única esperança de um povo, qualquer crítica a ele é vista como traição, e qualquer erro seu é justificado como “um mal necessário”. Assim, aos poucos, abre-se espaço para o autoritarismo e para a eliminação do debate democrático.
A solução para os problemas de uma nação, ou, até mesmo, do mundo, não está na busca por um governante perfeito, mas na construção de uma sociedade mais consciente da realidade que nos cerca. Se quisermos sair do ciclo de promessas e frustrações, precisamos abandonar a fantasia de um salvador perfeito e assumir, nós mesmos, o compromisso com a transformação.
Devemos sempre ter em mente que a realidade nunca se transforma da noite para o dia, e qualquer proposta que prometa isso merece ser encarada com desconfiança. A transformação só virá quando deixarmos de nos contentar com palavras bonitas e promessas vazias e passarmos a exigir medidas concretas que realmente possam mudar nossa triste realidade.
(*) Wanderson R. Monteiro é articulista e escritor.
(São Sebastião do Anta – MG)