(*) Fernando Benedito Jr.
A julgar pelos fortes rugidos do leão Javier Milei durante a campanha eleitoral argentina, as primeiras medidas de seu governo seriam mais estridentes do que a revogação do decreto anti-nepotismo para nomear a própria irmã, a fusão de ministérios (que não representa, nada exceto demagogia) e um tímido corte de gastos públicos, que já não era grande coisa num país onde “no hay plata”, como ele próprio disse.
No imaginário popular, a Argentina, no dia seguinte à posse do extremista de direita, do anarco capitalista e libertário Milei, já estaria com o Banco Central fechado esperando as cotações do Federal Reserve americano e notas de dólares voariam pelos céus de Buenos Aires, substituindo o peso argentino. Não foi nada disso. Nem nunca seria, senão nas mentiras contadas aos eleitores para construir no imaginário argentino e dos bolsonaristas a falsa ideia de que a “longa noite do populismo peronista” estava acabada. E que de agora em diante começava a era da prosperidade.
Claro, ainda é cedo.
Mas os sinais são de mais arrocho para o povo pobre e para a classe média; e de mais benefícios para a iniciativa privada, para os ricos, que é para onde a liberdade avança.
Por supuesto, o economista Milei já deveria ter nas mangas o Plano de Governo, o Plano Econômico, o tal Plano Motosserra. Era o que se esperava dele, um economista, crítico feroz do sistema, portanto, senhor da mudança esperada.
Até agora, nada. E a julgar pela timidez do que apresentou, também não tem o tal plano infalível. Ainda está tomando pé da situação. Está fazendo a transição.
Mas tudo indica que o rugido do leão, em breve, vai se transformar no miado de um gatinho acossado. Vejamos o que diz o senhor da razão, o tempo.
(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.