Ilustração: O personagem Zé Carioca: um ícone do “jeitinho brasileiro”
(*) Walber Gonçalves de Souza
Somos um país jovem. Nossa democracia é recente. Quem é que nunca ouviu essas assertivas? Mas como falácias, essas afirmativas, que se somam a tantas outras, parecem que só servem para justificar o injustificável: a bagunça generalizada que nos acompanha a séculos, que se mostra na face mais cruel através das injustiças sociais: fome, miséria, educação de péssima qualidade, na falta de condições de vida digna e o pior, em muitos casos sem perspectiva reais de dias melhores.
Mas afinal, o que falta para o Brasil se tornar uma grande nação? Por que insistimos em manter um modelo político, social, econômico e jurídico, que insistem se digladiar, como se fosse uma doença autoimune. Quem são os poucos que se beneficiam com esse tipo de sociedade? Por que insistimos no nosso fracasso? Por que não temos a coragem de encarar e fazer acontecer uma solução?
A percepção que tenho é que estamos sem rumo, sem destino, como um barco à deriva no reboliço do alto mar. Não conseguimos delimitar o certo do errado, independente de qual seja a situação ou pessoa envolvida; não conseguimos delimitar entendimentos, pois quem ameaça pode ser preso, mas quem mata pode estar solto; quem é honesto dificilmente vence na vida e quem se envolve em falcatruas quase sempre se dá bem; não conseguimos fazer da nossa riqueza uma forma de desenvolvimento social; não temos coragem de encarar os dilemas que enfrentamos, na verdade gostamos mesmo é de jogar a poeira para debaixo do tapete, por isso somos um país em que praticamente tudo acaba em pizza. E no fundo, pelo visto, gostamos mesmo é de nos justificar: eu faço porque todos fazem.
Assim, confundimos liberdade com libertinagem; furto com pegar emprestado; porrada com “só um tapinha não dói”; em vários casos tratamos pessoas como se fossem animais; poder com autoritarismo; justiça com migalhas; estamos chegando no absurdo de medir o amor Deus pelo bolso, e a Teologia da Prosperidade está aí como prova; vivemos uma era de assassinato de reputações e infinitos aplausos para os verdadeiros canalhas da nação.Enfim, as coisas estão tomando uma direção a cada dia mais tenebrosa, vexatória e desumana.
Não conseguimos apurar, punir e diminuir com eficácia corrupção, o jeitinho, a malandragem. Se há corruptos, vendedores de sentenças, gente envolvida nos mais diversos tipos de crimes, principalmente delitos contra o povo, precisam ser extirpados, banidos de atividades públicas, enfim, punidos exemplarmente. Independente de qual poder e instância o sujeito seja.
Nosso país nunca será o país que queremos, enquanto nossos poderes só mostrarem suas caras, quando por algum motivo, forem incomodados, por pisarem nos seus calos e mesmo assim, para se defenderem, como excelentes corporativistas, pouco importando com o destino dos milhões de brasileiros. Pois se há gritos eles precisam ser averiguados.
(*) Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor.