(*) Fernando Benedito Jr.
O ainda ministro Luiz Henrique Mandetta é um daqueles casos em que a cria fica maior que o criador. Não só tornou-se um incômodo para Jair Bolsonaro como o colocou numa casa de calango da qual está cada vez mais difícil de sair. Se demite o ministro fica com a responsabilidade pelo descontrole e absoluta falta de comando nas ações contra a pandemia do coronavírus no Brasil. Se o mantém, continua sem o protagonismo das ações, e vai aumentar ainda mais o bate-cabeça para sair da crise e ao final será responsabilizado pelas consequências do avanço da epidemia, como as mortes e a profunda crise econômica que se seguirá ao fim e ao cabo da crise sanitária. Por isso insiste em minimizar a pandemia, as medidas de isolamento social e matar o máximo possível de gente – quer se desvencilhar agora da crise econômica que se acentuará até o fim de seu governo, quer ter o protagonismo do futuro imperfeito para também poder dizer: eu avisei.
O vírus que Bolsonaro tanto ironizou e do qual fez pouco caso, acabou por destruí-lo mais rapidamente do que a oposição política a seu governo. O vírus revelou todas as suas limitações encobertas pelas suas mentiras e fake news, sua fragilidade intelectual, sua personalidade doentia, psicopata e genocida. O desnudou e expôs o fel contido em suas entranhas com mais visibilidade do que o fez a faca de Adélio. O coronavírus que ele tanto nega lhe tirou a governabilidade. O país é conduzido pelo Congresso Nacional, pelos governadores e pelos prefeitos. A unidade federativa se fez em frangalhos. Nunca um sujeito na Presidência da República conseguiu tal façanha em tão pouco tempo. Para fazê-lo, tem que ser muito estúpido.
Na última coletiva para atualizar os dados sobre o coronavírus, o ministro Mandetta foi amordaçado. Ao ser indagado sobre a saidinha de domingo do presidente em seu passeio pelo Distrito Federal, o general Braga Neto, no melhor estilo da ditatura militar, interrompeu a roda de imprensa. O ainda ministro da Saúde sorriu irônico. Depois elogiou a Rede Globo, pediu desculpas à imprensa, defendeu o isolamento geral. E falou que seguia orientações dos Estados. Posicionou-se como quem já foi demitido ou o será na primeira oportunidade. Talvez, amanhã. Talvez, depois. Ou como quem já não suporta mais um presidente irresponsável e louco, sem palavra e arrogante, negacionista de uma realidade irrefreável. Mandetta se portou como alguém que não vai se demitir porque esteja de saco cheio, mas porque espera ser demitido, não por oportunismo, mas por estratégia, para poder dizer de boca cheia: a culpa e a responsabilidade é deste idiota.
Para o bem do Brasil e da humanidade, o correto mesmo seria uma renúncia coletiva de todo o Ministério, já que o presidente não tem brio para fazê-lo sozinho. Outra saída é a desobediência civil, que parece ser o que está acontecendo nos Estados, municípios, imprensa, grande parte da sociedade e poderes constituídos. Falta pouco…
(*) Fernando Benedito Jr. é jornalista e editor do Diário Popular.