sábado, fevereiro 1, 2025
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O futuro da democracia nas mãos das novas gerações

(*) Thales Aguiar

Caros leitores, podemos imaginar que a democracia é um organismo vivo, que se alimenta da participação ativa de seus cidadãos. Nos últimos anos observamos um fenômeno preocupante, que é o declínio da participação política tradicional. No Brasil, esse cenário se refletiu na diminuição do comparecimento às urnas, no desinteresse por partidos políticos e na desconfiança crescente em relação às instituições. Mas, paradoxalmente, esse mesmo contexto tem dado origem a novas formas de engajamento cívico, lideradas sobretudo pelas novas gerações.  E o que isso significa para o futuro da democracia no país? Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) demonstra que nas últimas eleições, o número de eleitores que justificaram a ausência no dia da votação ou simplesmente deixaram de comparecer atingiu patamares recordes. Pesquisas de opinião revelam também que a confiança em partidos políticos e no Congresso Nacional está em níveis historicamente baixos. Esse distanciamento não é exclusividade do Brasil. É um fenômeno global, impulsionado por uma sensação generalizada de que a política tradicional não representa mais os anseios da população.

Mas seria um erro interpretar esse afastamento como apatia. O que estamos vendo, na verdade, é uma transformação no modo como as pessoas se engajam politicamente. Se antes a participação se resumia ao voto e à filiação partidária, hoje ela se manifesta de formas mais fluidas e diversificadas. As novas gerações, em especial os millennials e a Geração Z, com ativismo digital. Plataformas como Instagram e TikTok têm se tornado palco de debates acalorados e campanhas de conscientização. Além disso, há um crescente interesse por causas específicas, como meio ambiente, igualdade racial e justiça social. Um exemplo emblemático foi o papel dos “tiktokers” na campanha eleitoral. Jovens criadores de conteúdo usaram e usam a plataforma para explicar o funcionamento das urnas eletrônicas, desmentir fake news e incentivar o voto consciente. Essa estratégia mostrou-se eficaz, especialmente entre os eleitores mais jovens, que muitas vezes se sentem excluídos da política tradicional. O surgimento dessas novas formas de engajamento é, ao mesmo tempo, uma oportunidade e um desafio para a democracia brasileira. Elas demonstram que há um interesse genuíno em participar da vida pública, mesmo que fora dos canais tradicionais. Também colocam em xeque a capacidade das instituições democráticas de se adaptarem a essas mudanças.

Partidos políticos precisam repensar sua relação com a sociedade. Já não basta ter um programa de governo ou um candidato carismático, é preciso dialogar com as demandas específicas de grupos que antes eram marginalizados, combater a desinformação e garantir que as novas gerações tenham acesso a informações confiáveis. Outro ponto crucial é a inclusão digital. Enquanto as redes sociais são um espaço privilegiado de mobilização, milhões de brasileiros ainda não têm acesso à internet ou não sabem como usá-la de forma crítica. Garantir que essas pessoas também tenham voz é um desafio que precisa ser enfrentado. O declínio da participação política tradicional não é o fim da democracia, mas o início de um novo capítulo. No Brasil, as novas gerações estão mostrando que é possível se engajar de formas criativas e impactantes, mesmo diante de um cenário de desconfiança e polarização.

Cabe a nós, como sociedade, garantir que essa energia seja canalizada para fortalecer as instituições democráticas, e não para destruí-las. A democracia não é um sistema estático, ela evolui com o tempo, refletindo as mudanças na maneira como nos organizamos e lutamos por nossos direitos. E, no Brasil, essa evolução está apenas começando. Se soubermos ouvir as vozes que emergem das ruas e das redes, talvez possamos construir uma democracia mais inclusiva, representativa e, acima de tudo, viva.

(*) Thales Aguiar é jornalista e escritor, especialista em Ciência Política

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