(*) Fernando Benedito
O general da reserva Sérgio Westphalen Etchegoyen, ex-ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) durante o governo Michel Temer, disse que foi um ato de “profunda covardia” do presidente Lula afirmar que perdeu a confiança em parte das Forças Armadas. Há quem pense o contrário e considere que Lula agiu com coragem.
“Ele [Lula] sabe desde já que nenhum general vai convocar uma coletiva para responder à ofensa. Então isso é um ato de profunda covardia, porque ele sabe que ninguém vai responder”, disse o general ao programa da TV Pampa na terça (17). Bom, ele respondeu.
Durante sua gestão, Etchegoyen também era responsável pela Agência Brasileira de Informação (Abin), outro “alvo” das críticas, que nada fez para informar a Presidência sobre os riscos da tentativa de golpe em 8/1, data que entra para a história como o “Dia da Infâmia”. Nenhum órgão de informação das três forças (Exército, Marinha e Aeronáutica) informou com precisão os riscos de depredação e vandalismo dos golpistas. Aliás, informaram o contrário, que estava tudo na mais perfeita ordem e calmaria na Esplanada.
Só para ilustrar, a incompetência dos órgãos de informação era reclamação constante também de Bolsonaro, um puxa-saco contumaz dos militares. Naquela fatídica reunião em que se destacou a fala do então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Sales, de deixar passar a boiada, o ex-presidente foi taxativo em criticar os serviços de informação dizendo que se dependesse deles as investigações de corrupção iriam “foder sua família e seus amigos” [palavras de Bolsonaro]. Aí trocou os delegados da PF e criou arestas com Sérgio Moro, então ministro da Justiça, provocando sua saída pouco honrosa de um governo imoral.
Desde a divulgação do resultado das eleições e antes delas, Exército, Marinha e Aeronáutica, nada fizeram para reconhecer o resultado das urnas, mesmo não sendo sua atribuição. Mas era recomendável diante do momento conturbado. Ainda mais depois de participar da “fiscalização” do processo e não ter encontrado nada de errado, como esperado. Nenhuma palavra. Ao contrário, mantiveram um silêncio cúmplice e tutelaram as manifestações golpistas em portas de quartéis, particularmente em Brasília, onde foram gestados atentados a bomba e a invasão do Planalto. “Um ninho de terroristas”, como já previra o ministro da Justiça, Flávio Dino.
Impediram a PM de retirar os golpistas, colocaram tanques nas ruas para intimidar os soldados da PM e sinalizaram que apoiavam os extremistas.
Também é ilustrativo o artigo de Edson Rossi, na revista “Isto É”, ao destacar que “as Forças Armadas brasileiras se incluem na rara categoria global de ter matado mais patriotas que estrangeiros, mostrando a sua gênese. Em seus 200 anos, o Exército lista mais batalhas contra brasileiros. Doideira, né? Matou nas revoltas todas. Sul. Maranhão. Bahia. Pernambuco. Matou em Canudos. Matou em 1932. Matou na ditadura. Matou em Volta Redonda. Metralhou no Rio. Matar brasileiros parece ser a sina dessa instituição”.
Ao criticar a atuação das Forças Armadas, dos órgãos de informação e das polícias militares; ao desmilitarizar o Planalto, Lula não faz uma generalização. É seletivo ao apontar o dedo e o faz com a devida vênia de ser o comandante-em-chefe, ainda que alguns não queiram. E sua desconfiança tem razão de ser: não é exatamente idolatrado e amado pelos militares.
O mais importante, o general Etchegoyen omite. A declaração de Lula de que as forças armadas devem ser despolitizadas e cumprir seu papel constitucional de órgão do Estado, defender a soberania nacional e as fronteiras. Diga-se, função bem diferente de acobertar garimpo ilegal, os assassinatos de povos originários e o desmatamento na Amazônia, como ocorreu durante o governo Bolsonaro.
O comandante-em-chefe tem demonstrado muita coragem.
(*) Fernando Benedito Júnior é editor do DP.