Cidades

‘Nenhuma luta é em vão’, diz Fernando Pimentel

Durante entrevista coletiva, Pimentel comentou a atual conjuntura política e disse não acreditar na possibilidade de uma debandada do PMDB do arco de alianças com o PT em Minas

IPATINGA – O ex-ministro Fernando Pimentel, coordenador da Caravana da Participação e pré-candidato do PT ao governo de Minas, esteve ontem em Ipatinga onde se reuniu com lideranças políticas e militância do Partido para discutir o projeto do PT no Estado.

Durante entrevista coletiva, Pimentel falou sobre os 50 anos do golpe militar, quando foi preso como militante do Comando de Libertação Nacional (Colina), juntamente com a presidenta Dilma Rousseff, combatendo o regime. Ele também comentou a atual conjuntura política e disse não acreditar na possibilidade de uma debandada do PMDB do arco de alianças com o PT em Minas.

“Poderia ter alguma lógica uma candidatura própria do partido e uma aliança no 2º turno. Mas aliança com o PSDB não é uma hipótese viável”, disse. Pimentel, que é economista, avaliou a situação de crise na produção siderúrgica e disse que o processo de industrialização no Brasil não foi concluído. “Estamos vivendo num mundo que está em transformação, apontando um novo estágio econômico, que é a economia do conhecimento. Não é mais a indústria pesada”, afirmou.

Os principais trechos da entrevista são:

ALIANÇA COM PMDB
Eu não gostaria de falar de um assunto interno de um partido que é um importante aliado nosso. Tivemos aqui a presença do deputado federal Mauro Lopes, que é secretário nacional do PMDB, e eles estão discutindo internamente qual é o caminho, qual a estratégia eleitoral do PMDB em MG nesta eleição.

Uma coisa parece que já está decidida, pelo menos foi o que me disse o presidente estadual do PMDB Antonio Andrade, ainda ontem [anteontem], que é o seguinte: o PMDB, em nenhuma hipótese, fará aliança com PSDB em Minas Gerais. Isso tem muita lógica, porque há 12 anos o PMDB marcha conosco no bloco de oposição na ALMG. Temos uma aliança em nível nacional e o vice-presidente da República é Michel Temer, presidente de honra do PMDB. Poderia ter alguma lógica uma candidatura própria do partido.

É isso que eles estão discutindo. Conforme a direção regional do PMDB, a discussão interna é se vai ter uma candidatura própria ou se vai buscar uma aliança com PT no 1º turno. Caso tenham candidatura própria a aliança aconteceria no 2º turno.

PT NO GOVERNO
O PT apresentou candidatos em quase todo os pleitos estaduais, no último nós fizemos uma aliança com o PMDB e marchamos com a candidatura do ex-ministro, senador Hélio Costa. Nós, neste período todo, acumulamos experiência de gestão pública nas prefeituras que administramos, inclusive aqui no Vale do Aço.

Nós temos uma experiência larga no campo municipal que, se somada à dos partidos que compõem o arco democrático e popular, PMDB , PC do B, PRB, teremos uma experiência respeitável do ponto de vista de gestão municipal. Alie-se a isto o fato de que nós do PT e partidos aliados governamos o Brasil já há 12 anos.

Muitos quadros nossos foram ministros do governo federal, portanto, experiência não falta a esse campo. E, de fato, existe um sentimento de mudança em Minas Gerais, que estamos recolhendo durante a Caravana da Participação. Um sentimento de que o estado pode avançar mais, de que o estado ficou aquém do que a população de MG gostaria nestes três mandatos de governo tucano. Eu recolho isso em todas as regiões do Estado. As pessoas dizem: “Ah, podia ter sido melhor. Poderia ter avançado mais. O Rio avançou mais, a Bahia avançou mais, Pernambuco avançou mais. Por que Minas não?” É como se houvesse um sentimento de que o Brasil avançou mais do que Minas. Este é o sentimento que recolho, não estou fazendo nenhuma crítica, mas uma constatação.

Então, acho que de fato há um desejo de mudança em Minas e há uma força política que pode ser agente destas mudanças, que somos nós. Não estou falando de mim, mas do conjunto de forças políticas e da experiência que temos acumulada. Daí que recolho também desta trajetória um otimismo, um desejo, uma vontade muito grande deste arco de alianças de disputar esta eleição com chance de vitória.

DESENVOLVIMENTO
O governo da presidenta Dilma já fez a licitação das obras da BR-381. Dois lotes estão sendo licitados agora, porque correram desertos [sem participantes], os outros já estão contratados e a informação que tive hoje, aqui em Ipatinga, é que os canteiros de obras estão sendo montados. Na minha avaliação, desde o governo JK, o Brasil não tem um programa de rodovias, portos e aeroportos tão abrangente, tão minucioso quanto este que a presidenta Dilma está liderando. Ela fez a concessão mais de 10 mil km de ferrovias , todos o eixos rodoviários mais importantes do Brasil e todos os aeroportos. Se fosse fácil, alguém já tinha feito. Tem 50 anos que estamos falando disso. Por que ninguém fez nestes 50 anos? Certamente porque é uma tarefa muito difícil. Se fosse fácil fazer uma rodovia o governo de Minas já teria feito esta ligação de 50 km entre Timóteo e São José do Goiabal.

A informação que eu tenho é que 5 ordens de serviços foram dadas e até hoje a obra está parada porque tem problemas ambientais, desapropriação, ora tem isso, ora tem aquilo. Então, estamos tratando de uma questão de fato difícil. E o governo federal está enfrentando esta questão, não é só da 381, mas da BR 040. Este esforço que o governo da Dilma fez vai começar a aparecer. Já quanto à ponte entre Timóteo e Fabriciano as propostas vão ser abertas no dia 21 de junho.

Minas é claramente um estado onde temos um processo de industrialização não concluído. E hoje, fruto deste processo de industrialização que não se concluiu, o Estado tem duas grandes commodities que é o minério de ferro e o café. É isso, basicamente, que sustenta a economia mineira. Se eliminarmos o minério de ferro e café, vamos reduzir o PIB de Minas à metade do que é hoje, para se ver como somos dependentes de duas commodities.

No primeiro capítulo das caravanas em Manhuaçu, Varginha, na região metropolitana de BH, Vale do Aço, Triângulo Mineiro, Zona da Mata, fizemos uma constatação: Minas não tem um projeto de desenvolvimento. Há 12 anos, o PSDB governa este estado e não tem um projeto para o Estado. Esta é a verdade. Qual o projeto econômico de Minas, produzir minério e café? Qual o projeto real do estado num País que está inserido na economia global e num mundo que está em transformação? Hoje o mundo aponta um novo estágio econômico, que é a economia do conhecimento, não é mais a indústria pesada.

Nós estamos aqui no coração, centro da região metalúrgica, mas não é a indústria pesada que puxa o desenvolvimento no mundo inteiro. Então, temos que fazer este grande esforço porque Minas é o berço da indústria siderúrgica, mas precisamos dar um passo adiante, um passo à frente, com novos produtos, novos materiais. A economia do conhecimento significa você investir fortemente em tecnologia e inovação. O que Minas, em 12 anos de governo do PSDSB, fez nesta direção?

O governo federal aqui em Minas está fazendo um esforço gigantesco rumo à inovação. Temos hoje mais de 100 municípios com instituições de ensino federais, incluindo Ipatinga. Antes tínhamos 100 em todo o País. Quantas vezes o governo do Estado se reuniu com reitores das universidades federais e dos institutos tecnológicos federais? Quantas vocês dirão? Ah, muitas, algumas, poucas? Vou responder: nenhuma, nenhuma! O governo do estado nunca chamou para conversar e perguntou como pode fazer para colaborar, para ajudar as instituiçõs tecnológicas federais. É disto que estamos falando. É esta a questão que está posta: não tem projeto econômico para o estado. Nós queremos construí-la e apresentá-la a Minas.

50 ANOS DO GOLPE

Eu me sinto muito privilegiado de participar de um momento tão diferente. Eu tinha 13, 14 anos na época do golpe militar. Depois, aos 17, 18 anos, entrei na resistência e fui preso como militante do Comando de Libertação Nacional (Colina). Eu vejo agora que todo aquele esforço resultou numa sólida democracia e nós tivemos o privilégio, a sorte, Deus nos iluminou, para podermos ainda ser personagem deste segundo momento. Escrevi recentemente um artigo para um jornal sobre os 50 anos do golpe e coloquei o seguinte título: “Nenhuma luta foi em vão”. É isso que eu penso.

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