(*) Fernando Benedito Jr.
Bolsonaro não tem força interna, não tem apoio externo, não tem argumentos e nem sustentação para fazer mais do que uma manifestação no dia 7/9, como todas aquelas que fazem semanalmente em campanha antecipada para seguir no poder, destruindo o País
“Não podemos admitir que uma ou duas pessoas, usando da força do poder, queiram dar outro rumo ao nosso país. Essas uma ou duas pessoas precisam entender o seu lugar. O recado de vocês nas ruas, na próxima terça-feira, será um ultimato para essas duas pessoas”. A declaração em tom ameaçador e golpista é de Bolsonaro, nesta sexta-feira (3) convocando para o ato em sua defesa no dia 7 de setembro. Quer mobilizar milhões de pessoas contra dois ministros do STF, que, aliás, estão cheios de razão ao mandar prender seus amigos que defendem golpe e ameaçam o Estado Democrático de Direito, a Constituição e as instituições.
Bolsonaro é o único culpado pela crise sanitária, econômica, política e energética pela qual passa o País, embora queira atribuir os problemas a dois ministros do STF, a prefeitos e governadores (grande parte, apoiadores do presidente até algum tempo atrás). Ameaçado pela impopularidade, tenta reverter a situação aos berros e com ameaças golpistas e cortinas de fumaça para desviar a atenção popular de sua responsabilidade pela inflação, pelo alto preço dos combustíveis, pela incompetência generalizada de seu governo. Desde que tomou posse vem criando confusão com os outros poderes. Semanalmente, nas “lives” das quintas-feiras, cria uma nova polêmica, mas, incapaz de governar, culpa os outros. Está em campanha desde que assumiu.
Infelizmente, uma parcela significativa da população, cai na conversa. Muitos, inclusive, estão achando que os atos do dia 7/9 são para protestar contra a inflação. “Coitado, ele não consegue governar e a culpa é dos ministros”, disse uma moça, confundindo os ministros dos STF com os ministros do governo, sem saber o que é um e outro.
O pronunciamento de hoje foi durante a concessão de uma ferrovia. É um governo de concessões. Entrega à iniciativa privada aquilo que outros construíram e até mesmo o que a natureza construiu, como é o caso dos parques nacionais. E, curiosamente, se utiliza de argumentos patrióticos para convocar seu ato no dia 7, enquanto entrega o País ao capital estrangeiro.
No poder, é um desastre. Um arremedo de governante. E seu tempo acabou. Não há como reverter.
Seu antigo partido, o PSL, com a maior bancada na Câmara dos Deputados, e a aliança com o Centrão, em tese, deveriam lhe garantir governabilidade para fazer o que bem entendesse. Também tem maioria no Senado. Mas nem seus próprios aliados dão conta de tamanha incompetência. Foi incapaz de comprar vacina e aos primeiros sinais de fazê-lo pedia propinas, a família inteira está num enrosco sem saída com “rachadinhas”, casos de corrupção, envolvimento com milícias.
Ministros do governo caem e são trocados amiúde. A mentira e a capacidade de inverter a lógica, culpando os outros pelo que ele faz, é uma prática costumeira. Por exemplo: ao incentivar a rebelião das Polícias Militares, questionar o regime democrático, o voto eletrônico, o STF e o TSE e se alinhar aos militares para governar, é Bolsonaro e não a esquerda que quer transformar o Brasil numa Venezuela (no sentido pejorativo utilizado por ele e seu séquito de fascistas).
Bolsonaro não tem força interna, não tem apoio externo, não tem argumentos e nem sustentação para fazer mais do que uma manifestação no dia 7/9. E, sim, deve dar um grande público. Empresários, ruralistas, fundamentalistas evangélicos, pseudos conservadores e falsos moralistas de todos os cantos do Brasil estão enchendo ônibus para lotarem a Avenida Paulista e a Esplanada dos Ministérios.
Estão manipulando os pobres, que tanto odeiam, para lhes dar apoio. Definitivamente, não é um apoio sólido.
No mais, veremos o que acontece no dia 8/9.