(*) Fernando Benedito Jr.
Entre as muitas lendas do futebol brasileiro tem aquela da Copa do Mundo de 1958, na Suécia, quando o técnico Vicente Feola explicou na prancheta a tática para derrotar a seleção da antiga União Soviética: Nilton Santos lançaria a bola da esquerda do meio de campo para a direita do ataque nos pés de Garrincha, que driblaria três adversários e cruzaria para Mazola cabecear na grande área e fazer o gol. Com ingenuidade ou ironia, não se sabe, Mané Garrincha perguntou: “Seu Feola, o senhor já combinou com os russos?”
Considerada as devidas situações, o caso da guerra na Ucrânia é mais ou menos a mesma coisa. No primeiro chute, Donald Trump propôs um armistício, mas não chamou as partes envolvidas na guerra, o que gerou críticas contundentes da União Euopeia.
Depois, armou uma cilada para Vladmir Zelensky no Salão Oval da Casa Branca que desandou num bate-boca.
Agora, fizeram uma proposta de cessar-fogo de 30 dias, na Arábia Saudita, mas parece que não combinaram com os russos. Pelo menos é o que se depreende pelo silêncio do Kremlin e do não menos autocrata Vladmir Putin, cujo único pronunciamento, aí já um pouco mais barulhento, foi um novo bombardeio à Ucrânia, mirando, inclusive, na cidade natal de Zelensky.
É um cenário tenso. As discussões são feitas longe do front, não envolvem os líderes diretamente interessados e as propostas parecem apostas para ver qual delas tem menos chances de dar certo.
Enquanto isso, a indústria bélica aumenta sua produção, que tende a escalar ainda mais com a decisão da União Europeia de investir em defesa, isto é, aumentar seu arsenal, diante das ameaças de Trump de abandonar a OTAN à própria sorte.
Alguém está ganhando muito dinheiro com isso. E não são os russos nem ucranianos
(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.