(DO UOL) – A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) determinou, ontem à noite, a interrupção do estudo clínico da vacina CoronaVac, após o registro de um “evento adverso grave” —é padrão interromper os testes quando algum problema é notificado. Hoje, o UOL apurou que a morte que causou a suspensão das pesquisas foi o suicídio de um voluntário de 33 anos, sem qualquer relação com os testes do imunizante, liderados pelo Instituto Butantan em São Paulo.
A decisão causou surpresa e irritação em autoridades de saúde do estado de São Paulo, que classificam a decisão do governo federal de desleal. O controle de quem toma placebo e quem toma a vacina de fato é feito por uma comissão internacional. Somente estes técnicos podem responder se o homem, que era voluntário no Hospital das Clínicas de São Paulo, havia recebido a CoronaVac ou placebo. Esta informação ainda não é de conhecimento das autoridades de saúde.
ATAQUES
O diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, disse que a decisão de suspender as pesquisas foi técnica. Ele justificou que os documentos que relatam a morte, enviados pelo Instituto Butantan, estavam “incompletos” e “insuficientes”.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) usou a suspensão da CoronaVac para, mais uma vez, atacar o governador de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), e escreveu no Facebook que “ganhou mais uma”. O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) disse que “todo e qualquer processo de vacina sofre avanços e recuos” e que “não me compete comentar as declarações dele [Bolsonaro]”.
REAÇÃO
Políticos de oposição criticaram a declaração. Ciro Gomes (PDT) disse que “cadeia é muito pouco para canalhas que fazem politicagem com vacina”. Já o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), disse que Bolsonaro “continua a ser o maior aliado do coronavírus” no Brasil.
Já a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou que suspensões de testes clínicos são “rotineiros” no desenvolvimento de uma vacina. “Isso é uma rotina no campo médico”, afirmou a porta-voz da agência, Fadela Chaib, ao colunista do UOL Jamil Chade.
A suspensão das pesquisas da CoronaVac, no entanto, não vai alterar o cronograma de importação que prevê as primeiras 120 mil doses chegando ao Brasil em 20 de novembro, segundo informaram hoje fontes do governo de São Paulo e do Instituto Butantan.