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Meu amigo americano

Apesar da bajulação e das reiteradas declarações de amizade com a “família Trump”, Brasil não teve nenhuma vantagem nas relações com os EUA

(*) Fernando Benedito Jr.

É com uma honra quase desmedida que Jair Bolsonaro volta e meia ressalta sua amizade e a de seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, com a família Trump. Do jeito que fala, parece que os filhos foram criados juntos no playground do condomínio Vivendas da Barra ou brincando de fazer hambúrguer no Maine. Nunca os vi juntos, em qualquer relação de proximidade, liberalidade e, principalmente, amizade, nem antes nem depois de serem presidentes. Nunca viajaram no mesmo avião ou helicóptero. Nunca passaram férias juntos em Ibiza ou Damp David. E se por acaso se hospedaram num destes magníficos e luxuosos hotéis de Trump, tiveram que pagar, porque o sistema Trump é bruto, capitalista desumano. E olha que os Bolsonaro gostam de uma “boquinha”.

Agora, independentemente das relações pessoais e da “amizade”, o que importa mesmo são as relações diplomáticas e comerciais de um País com outro. E nesse caso, parece que Jair Bolsonaro alimenta o crocodilo na esperança de ser comido primeiro e não por último. Até agora, apesar da bajulação, do servilismo, da postura subserviente e vira-lata – com as devidas desculpas aos vira-latas –, lambe-botas mesmo, Bolsonaro não conseguiu sequer o apoio dos EUA para realizar o sonho de levar seu filho para a Embaixada Brasileira em Washington.

Depois de não ter o apoio de ninguém, preferiu ficar no Brasil para pacificar o PSL. Já está praticamente resolvido o conflito, tamanha é a competência diplomática do rapaz.

Nesta segunda-feira, os EUA decidiram manter o veto à importação de carne bovina in natura do Brasil. A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina “ficou desapontada” com a decisão, mas “acredita no excelente relacionamento do Brasil com os Estados Unidos para resolver a questão”. Entrega mais uma Alcântara, um poço de pré-sal que talvez resolva.

Em outubro, os Estados Unidos, melhores best friends de Bolsonaro negaram apoio a uma proposta de inclusão de novos países, incluindo o Brasil, na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A entrada do Brasil no bloco dos países mais ricos foi preterida em favor de nações como a Argentina e a Hungria.

Assim, no geral, além de liberar vistos para os americanos e entregar o que estiver à mão, só pela honra de fazer reverência a Trump e bater continência para a bandeira americana, o Brasil até agora não levou qualquer vantagem nas relações de “amizade” com os Trump e com os EUA.

Fica claro que com amigos assim, o governo não preciso de inimigos. Mas faz questão de cultivá-los todo dia, em todo o mundo.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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