Novo filme de Nilmar Lage narra as memórias do casal, militante dos direitos humanos, durante o período do regime militar no Brasil
Durante as gravações em São Paulo, Maura e Robonson visitaram locais que marcaram a história de militância do casal – Foto: Nilmar Lage
IPATINGA – Está em fase de gravações o novo documentário do artista visual Nilmar Lage. Abordando novamente a temática da ditadura militar, presença marcante em suas produções, desta vez ele visita as memórias de Maura Gerbi Veiga e Robinson Ayres Pimenta e conta as histórias de resistência e enfrentamento ao regime militar vividos pelo casal.
“Maura e Robinson” narra, a partir dos olhares dos protagonistas, as histórias vividas por eles no período mais sombrio da história política do Brasil. Superados alguns traumas, atualmente eles vivem em Ipatinga (MG) e seguem militando pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) em causas populares, reafirmando suas vocações para a defesa dos Direitos Humanos.
“E eu sigo envolvido com as pautas sociais, pesquisando e tendo o privilégio de ouvir as histórias destas pessoas que atuaram contra a ditadura”, explica Nilmar Lage que assina a direção do filme. Ele também conta que há algum tempo vem esboçando roteiros para filmar as memórias de Maura e Robinson.
“Antes mesmo de conhecê-los pessoalmente, eu já ouvia algumas histórias sobre a vivência deles. Ter a oportunidade de transformar essas memórias em filme, quase nos transporta para dentro das reuniões do movimento estudantil e da luta armada, que eram as principais organizações de resistência contra a ditadura. Mas o curioso é que rapidamente voltamos à realidade quando atingimos o limite do horário das filmagens, porque está na hora de eles buscarem as netas na escola”, revela Nilmar sobre um pouquinho da história que vem por aí.
LUGARES DE MEMÓRIA
Nesta semana, a equipe acompanhou o casal em filmagens externas em São Paulo, onde visitaram locais marcantes da vida de Maura Gerbi e de Robinson Ayres, como onde moraram, militaram e organizavam ações de combate ao totalitarismo. A incursão incluiu, também, uma visita ao “Memorial da Resistência”, museu que ressignifica a antiga sede do DEOPS/SP (Departamento de Ordem Política e Social) e preserva as memórias da luta e da repressão políticas do estado de São Paulo. Este foi o local onde Maura Gerbi esteve presa e Robinson Ayres foi detido durante a ditadura.
MUDANÇAS
“Retornar a esses espaços nos fez perceber que a dinâmica da vida altera algumas coisas. Por exemplo, ver que a sede do jornal onde trabalhei – onde vivemos tão intensamente experiências pessoais e políticas, nos entristecemos com derrotas e celebramos vitórias – não existe mais como naquela época, foi muito difícil. A sensação é que tiraram um pedaço da gente”, lembra o casal que completa emocionado: “contar essa história é resgatar nossas pegadas e sempre tivemos vontade de revisitar esses lugares de memória e, até mesmo, de poder reelaborar algumas coisas sobre eles”, contam.
O diretor do documentário, Nilmar Lage, conta que, em alguns momentos, fica difícil esconder a emoção. “Filmar a Maura e o Robinson aqui foi fundamental pra perceber a importância de termos um ideal de luta. Mesmo depois de tudo que eles passaram, depois de todo esse tempo, eles ainda continuam militando em defesa dos Direitos Humanos e das pessoas em situação de vulnerabilidade. E é emocionante, principalmente pra quem sonha com uma sociedade mais igualitária”, afirma.
APESAR DE VOCÊ
Este não é o primeiro trabalho do artista a abordar o tema da ditadura militar. Ele conta que seu interesse pelo assunto surgiu antes mesmo da escolha de sua profissão. “Me recordo que na adolescência ouvia meu pai e tios cantarem canções da MPB setentista, sambas e da Tropicália, nos encontros de família. Este assunto nunca foi tabu em nossas reuniões. É também, nessa época que começa meu interesse pela linguagem documental e pelas temáticas sociais e dos direitos humanos”, recorda.
Em seu quarto documentário com diferentes abordagens sobre de conflitos e resistência à ditatura, Nilmar Lage entende que essa é uma história que ainda precisa ser contada e recontada o quanto for necessário, sobretudo neste ano, quando se completaram 60 anos da instauração do regime militar. “Foi um dos piores momentos da história contemporânea do Brasil e rememorar é fundamental para manter viva a luta pela garantia da democracia contra o totalitarismo, do qual estivemos muito próximos de reviver nos últimos anos”, enfatiza o diretor e idealizador do projeto.
O documentário “Maura e Robinson” é produzido por meio da Lei Paulo Gustavo, edital nº 02/2023 – Apoio às Produções Audiovisuais Mineiras e tem estreia prevista para este ano. Além de Nilmar Lage, diretor e idealizador do projeto, o filme e conta com a colaboração de Leila Cunha, na produção executiva, Mariana Penna, na assessoria de comunicação, Rodrigo Zeferino, na fotografia still e Thiago Moreira, na edição e finalização.