(*) Wanderson R. Monteiro
Existe um ditado popular que diz que “o trabalho dignifica o homem”, e certamente assim é. O trabalho nos traz responsabilidades, nos ensina a ter disciplina e, com isso, pode nos legar um bom nome e dignidade. Contudo, a importância do trabalho em nossas vidas vai além da responsabilidade e da disciplina, influenciando nossa identidade civil e pública. Quantas vezes somos identificados pela profissão que exercemos, independentemente de sermos professores, pedreiros, lavradores, advogados ou médicos? Porém, a profissão, embora significativa, não define a totalidade de quem somos como indivíduos, ou, pelo menos, não deveria se resumir a tudo aquilo que somos.
Ainda que o trabalho tenha um papel central em nossas vidas, ele não esgota nossa identidade. Todas as pessoas são multifacetadas e surpreendentes em habilidades e características. Como exemplo, podemos citar o carpinteiro, que mais tarde se tornou um mestre da sabedoria universal, mostrando que somos mais do que nosso emprego, e que temos capacidades, desejos e aspirações, que vão muito além daquelas esperadas em nossa área de trabalho e atuação.
Ainda seguindo o exemplo citado, seguindo a ideia de que nós não nos resumimos às responsabilidades e conhecimentos provenientes de nossa profissão, vejamos aquele que, provavelmente, é o “carpinteiro” mais conhecido de toda a história da humanidade. O carpinteiro aprendeu carpintaria com seu pai e religião com sua mãe, e embora fosse conhecido como “o filho do carpinteiro”, sua verdadeira identidade transcendia em muito esse título. Aos doze anos, já surpreendia os maiores sacerdotes com sua inteligência e conhecimento e, na idade adulta, dedicou-se a ensinar sobre a vida feliz e bem-aventurada, e sobre como viver uma vida que agrada verdadeiramente a Deus.
O carpinteiro falava e ensinava sobre agricultura, construção, economia e religião, demonstrando um vasto conhecimento que ia além de sua profissão inicial. Sua trajetória prova que o trabalho é uma parte significativa de nossas vidas, mas não é a totalidade de nosso ser. Não devemos permitir que nosso trabalho nos defina inteiramente ou julgar as pessoas apenas por suas ocupações. Todos temos a capacidade de ser mais do que imaginamos, desde que nos dediquemos a conhecer e desenvolver nossas várias habilidades e interesses.
O verdadeiro valor do trabalho, além de ser a base de nosso sustento, está em como ele contribui para o desenvolvimento de nossa identidade e dignidade, mas ele não deve ser a única medida de nosso valor. Devemos nos esforçar para enxergar além das profissões e reconhecer o valor intrínseco de cada indivíduo, suas habilidades únicas e suas contribuições diversas para a sociedade. Ao fazermos isso, podemos começar a ver as pessoas em sua totalidade e valorizá-las pela completude de tudo aquilo que elas são.
Em uma sociedade cada vez mais definida por títulos e ocupações, a frase “o trabalho dignifica o homem” ainda se apresenta como uma lição valiosa e importante mas, em muitas circunstâncias, a frase não abarca a totalidade das capacidades e meios de ação que possam ser possuídos por uma pessoa. Como pode ser exemplificado na vida de Jesus, nossas habilidades e conhecimentos vão muito além do que fazemos para ganhar a vida.
Assim sendo, devemos valorizar o trabalho, sem dúvidas, mas também reconhecer e cultivar outras dimensões de nossas vidas e de nossas habilidades que vão muito além de nossas funções diárias.
(*) Wanderson R. Monteiro é autor do livro “Cosmovisão em Crise: A Importância do Conhecimento Teológico e Filosófico para o Líder Cristão na Pós-Modernidade”. Vencedor de quatro prêmios literários. Coautor de 13 livros e quatro revistas.
(São Sebastião do Anta – MG)