Obra já disponível nas plataformas, o romance aguarda a data a ser definida para encontrar seus leitores presencialmente em sua cidade de origem
BOM JESUS DO GALHO – O jornalista e editor José Horta, 49, natural de Bom Jesus do Galho, acaba de lançar seu romance de estreia, O Clube da Segunda Chance, publicado pela Editora Viseu. A obra, já disponível em plataformas digitais e nas principais livrarias online, mergulha nos dilemas humanos que surgem quando a vida oferece — ou impõe — a oportunidade de recomeçar. O lançamento presencial será realizado na cidade natal, em data a ser anunciada.
Antes da ficção, Horta consolidou seu nome no jornalismo regional. Por anos, assinou uma coluna sobre música no caderno Metrópole, do Diário do Aço, entregue religiosamente em disquete, fruto de pesquisa minuciosa e memória prodigiosa. Posteriormente, assumiu a editoria dos jornais diários de Caratinga, João Monlevade e Manhuaçu, A paixão pela cultura sempre o acompanhou: futebol, cinema, literatura, a MTV dos anos 1990, a revista Bizz e shows, como do Interpol e Mudhoney, compõem seu imaginário pop.

CASA DE ARTISTAS
O menino que se tornaria editor e escritor cresceu em um ambiente singular. A casa dos pais, Seu Juca e Dona Cotita, abrigou por muitos anos uma escola de artes que funcionava diariamente na cozinha. As dependências eram ocupadas pela oficina do pai marceneiro, cedida para que alunos do artista Sérgio Graça produzissem entalhes em madeira, casarios em 3D, ilustrações com técnicas de perspectiva, pinturas em tela e desenhos clássicos.
Tudo isso embalado por vinis em uma vitrola antiga — com destaque para Não Chores por Mim, Argentina — trilha que acompanha as lembranças afetivas do autor e explica parte de sua sensibilidade estética.
FERIDAS ABERTAS
É dessa vivência plural que nasce O Clube da Segunda Chance, romance que acompanha cinco personagens reunidos em uma sessão de terapia coletiva. Cada um traz feridas — físicas, morais ou emocionais — e é levado ao limite ao confrontar culpas, frustrações e verdades que prefeririam manter escondidas. Entre eles estão uma mulher abandonada após vencer o câncer; uma jovem impedida de ser mãe; um funcionário público arrogante; um religioso hipócrita e um ateu corroído por um ressentimento antigo.
À frente do grupo está uma psicóloga idealista, que acredita poder curar o que o tempo não curou. Mas as reuniões revelam que as dores ali presentes são mais profundas — e mais perigosas — do que parecem.
Com estilo que mistura crônica social, realismo psicológico e ironia, José Horta cria uma narrativa cortante sobre culpa, fé, autoengano e o desejo de recomeçar.
CRÍTICA SOCIAL
O livro é marcado por referências musicais, cinematográficas e literárias. A canção “(What’s So Funny ’Bout) Peace, Love and Understanding”, eternizada por Elvis Costello, funciona como trilha emocional da trama, um pedido de esperança em meio ao caos moral que move a história. O cenário é um personagem à parte: um antigo leprosário que virou bordel e, depois, sede de um grupo de terapia. Um lugar condenado a se reinventar sem nunca se curar, metáfora precisa do país.
A ideia do romance nasceu após um episódio marcante na vida do autor. “Sofri um infarto, e o médico disse: ‘Você teve uma segunda chance da vida’”, relembra. Pouco tempo depois, ao contar o que havia acontecido a sua amiga Juliana Nunes Ramos, sobrevivente de um acidente automobilístico no Morro da Usipa em 2005, ouviu dela: “Bem-vindo ao clube. Assim nasceu o livro. Os personagens vieram naturalmente”, afirma.
José Horta conta que sempre perguntam a ele se há algo autobiográfico na oba. “Respondo que não, porque escrever é justamente criar novas vidas e novos lugares.”
CAPA
A capa, assinada por Nayara Priscila Andrade, usa tons terrosos e contrastes de luz e sombra para representar a cicatriz e a possibilidade de renascimento. “A imagem central evoca o edifício onde a trama acontece: simbólico, imponente, quase mítico. O projeto gráfico da BookPro reforça a atmosfera densa e elegante do romance”, sublinha o escritor.
Filho de Seu Juca e Dona Cotita, José Horta cresceu entre artesãos, discos de vinil e grandes narrativas. Leitor de Faulkner, Dostoiévski, Nick Hornby e Jonathan Coe, combina erudição, humor e afeto em uma prosa que dialoga com a vida real.
O Clube da Segunda Chance, diz o autor, “é sobre o que resta quando tudo parece ruir — e sobre o improvável encontro com a chance de recomeço nos lugares e nas pessoas menos esperados”.




