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Ipatinga perde o pioneiro Raimundo Anício, aos 93 anos

IPATINGA – Morreu às 23h45 da última terça-feira (16) o pioneiro e empresário Raimundo Anício Alves. Ele tinha 93 anos e estava internado no Hospital Márcio Cunha em decorrência de problemas de saúde que vinham se complicando nos últimos anos. Ontem, uma cerimônia no Cemitério Senhora da Paz marcou a despedida do homem que ficou conhecido por ser um dos principais pioneiros de Ipatinga, cidade que ajudou a emancipar.

Raimundo Anício nasceu em Santana dos Ferros, em 7 de dezembro de 1919. Era o mais velho entre os 14 filhos do casal José Anício e Orodina Alves da Costa. Ainda jovem se mudou para o município de Antônio Dias, onde começou a sua vida de comerciante, inicialmente como balconista, em seguida como empresário. Na cidade, casou-se com Ita Drumond e constituiu família, tendo quatro filhos. Também exerceu trabalhos religiosos, chegando inclusive a ser juiz de paz do município. Morou por três anos em Jaguaraçu, antes de se mudar em definitivo para Ipatinga, no ano de 1952, quando a cidade ainda pertencia a Coronel Fabriciano.

EMANCIPAÇÃO

Em Ipatinga, continuou exercendo atividades no ramo comercial, abrindo um bar. Foi convidado por outros dois pioneiros, José Anatólio Barbosa e Jair Gonçalves, para integrar a Comissão da Emancipação, movimento que lutava pela elevação de Ipatinga ao nível de cidade.

Sua casa, localizada onde hoje é o Centro de Ipatinga, tornou-se ponto de encontro e discussões sobre a autonomia de Ipatinga. Seu carro, uma rural verde, era utilizado nas viagens que os membros da comissão realizavam até Belo Horizonte, para o transporte de documentos e líderes do movimento.

Raimundo Anício integrou a extinta União Democrática Nacional (UDN) e foi presidente dos diretórios distrital e municipal da legenda, pela qual foi eleito vereador em Coronel Fabriciano. Como parlamentar, endossou a luta para que o distrito de Ipatinga se tornasse uma cidade independente.

CONVITE
Um dos filhos do empresário, José Edélcio Drumond, lembrou que o pai chegou a ser convidado pelo governador Magalhães Pinto para ser interventor de Ipatinga quando o município foi emancipado, em 1964, mas que não aceitou o cargo em razão da família. “Ele chegou à conclusão de que se fosse para o poder não poderia educar os filhos da melhor maneira possível”, disse, destacando que Raimundo também ajudou na educação dos irmãos menores. “Quando os meus avós morreram, ele (Raimundo) trouxe cinco irmãos para morarem conosco. Eles foram acolhidos e receberam a mesma educação que os filhos”.

ATIVISMO
O empresário teve participação importante na criação de entidades que até hoje representam diversas categorias. Foi um dos sócios fundadores da Associação Comercial de Coronel Fabriciano (Acicel) e também do Lions Clube Acesita, do qual foi governador entre os anos de 1979 e 1980.

Em Ipatinga, fundou a Associação Comercial da cidade (Aciapi) e dois clubes importantes: o Ipaminas e o Ipê Recanto Clube. Foi ainda presidente por duas vezes do Conselho da paróquia Cristo Rei, no Centro, e participou ativamente de movimentos religiosos na cidade. Também foi concessionário do serviço de iluminação pública e correspondente bancário. Em 1986 recebeu da Câmara Municipal de vereadores o título de cidadão honorário de Ipatinga.

VAZIO

Amiga de longa data de Raimundo Anício, a cozinheira Vera Tufik destacou a preocupação do pioneiro com a cidade. “Era um empreendedor envolvido com a comunidade. Contribuiu para o desenvolvimento de Ipatinga. Hoje a cidade fica mais vazia”, afirmou.

A prefeita de Ipatinga Cecília Ferramenta (PT) esteve no velório de Anício e também frisou a importância do pioneiro para o desenvolvimento de Ipatinga. Segundo a chefe do Executivo, a memória de Raimundo deve ser sempre preservada. “A gente tem muito que agradecer a ele, que ajudou a construir nosso município e nunca será esquecido”, disse. A Prefeitura Municipal decretou luto oficial de três dias em virtude do falecimento do pioneiro. O Decreto n.º 7.481 foi publicado na manhã de ontem no Diário Oficial do Município.

Diversas autoridades do Vale do Aço passaram pelo sepultamento de Raimundo Anício, que aconteceu durante todo o dia de ontem. Políticos e empresários se uniram à família e encheram o Cemitério Senhora da Paz, onde o corpo foi enterrado no final da tarde. Raimundo Anício Alves deixou a esposa, Ita Drummond Alves, três filhos, José Edélcio, Geraldo Éder e Raimundo Eustáquio, e cinco netos.

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