quarta-feira, janeiro 22, 2025
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Ipatinga e a catástrofe do dia anterior

(*) Fernando Benedito Jr.

A natureza tem lá suas surpresas, mas algumas coisas são previsíveis, embora o Brasil não tenha nenhuma capacidade de resposta rápida para qualquer cataclisma, seja provocado pelo fogo, água, deslizamento de terras, queda de minas, rompimento de barragens. As cidades, por outro lado, e seus governantes, com algumas exceções, tampouco, se preocupam com problemas de infraestrutura urbana. Geralmente tomam atitudes reativas depois que as catástrofes acontecem ou quando a situação chega ao ponto do colapso total e as alternativas paliativas se esgotam.

Em outro janeiro, igualmente chuvoso, no início dos anos 90, Ipatinga foi atingida por uma catástrofe como a atual. Pessoas morreram por afogamento na área central e por soterramento em áreas de encosta. O então prefeito, João Magno de Moura, tomou a decisão de acabar de vez com as tragédias na área central. Colocou uma pastinha debaixo do braço e peregrinou por Washington (EUA) e Brasília até conseguir os recursos necessários para levar adiante o projeto Novo Centro, promoveu plantio nas encostas, construiu muros de arrimo, fez o que pode e o que não pode. Anteriormente a ele, o prefeito Chico Ferramenta inverteu a lógica e pavimentou morros e encostas, antes de chão de terra batida, onde o esgoto escorria e céu aberto. Canalizou água, levou luz elétrica e pavimentou as ruas. Dignificou a periferia. Sua esposa, Cecília Ferramenta, quando prefeita, investiu cerca de R$ 17 milhões na construção de muros de arrimo para contenção de encostas. Foi alvo de críticas de parlamentares direitistas, mas cumpriu seu dever.

Depois destas intervenções, Ipatinga não viu nenhuma obra significativa para conter desastres climáticos como o que se viu este ano e com tal quantidade de mortos, talvez só registrada na enchente de 1970. Desde então, é muita conversa e pouca ação. Estão pendentes questões como o trânsito caótico, o descontrole das construções, os recorrentes problemas de fornecimento de energia elétrica, do tratamento e destinação do esgoto (com redes defasadas), os limites igualmente trágicos do setor de saúde pública, entre outros aspectos menos prioritários, mas igualmente importantes da vida urbana – mais parques, ciclovias, estacionamentos, por exemplo.

A população de Ipatinga, se percebeu isto, preferiu continuar vivendo assim. Ou entendeu que as outras escolhas seriam piores e menos seguras. É o que se depreende do resultado as últimas eleições. Seja como for, isto não exime as diversas esferas de governo de suas responsabilidades republicanas. O que inclui o governo federal que, ainda, não compareceu de forma efetiva. É preciso ir além dos telefonemas de solidariedade, da doação de colchões e cestas básicas. E o governo municipal, principal responsável pelas questões afetas à cidade, após as medidas de emergência, precisa começar a pensar como resolver de maneira definitiva os problemas, antes que eles ocorram novamente. E como se viu, é possível e previsível que ocorram.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.

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