Deputado italiano diz que governo acoberta foragida por razões políticas e ideológicas e que Itália não pode se tornar paraíso de golpistas e criminosos internacionais
ROMA – O governo da Itália afirmou hoje que não sabe onde está a deputada licenciada Carla Zambelli (PL-SP), alvo de um mandado de prisão internacional. A declaração foi feita pela vice-ministra do Interior, Wanda Ferro, em resposta à interpelação parlamentar do deputado de esquerda Angelo Bonelli.
“DEFASAGEM DE TREMPO”
O nome de Zambelli não constava como procurado nos bancos de dados nacionais ou internacionais da polícia quando a deputada chegou à Itália, disse a vice-ministra. Segundo Ferro, a parlamentar brasileira desembarcou no aeroporto de Fiumicino, nos arredores de Roma, no dia 5 de junho, às 11h40, em um voo vindo de Miami, utilizando passaporte italiano. Porém, o alerta vermelho da Interpol só foi publicado às 16h24 daquele mesmo dia, horas depois da chegada de Zambelli, justificou. “Essa defasagem de tempo não permitiu à polícia italiana executar qualquer medida de detenção”.
“Esta resposta do governo é absurda e inaceitável”, disse Bonelli. “O governo italiano sabia que Zambelli estava chegando a Roma, não apenas porque estava escrito em todos os jornais, mas porque eu havia informado o governo 36 horas antes de sua chegada à Itália”.
INVESTIGAÇÕES
“As investigações estão em andamento, mas até agora não foi possível localizar a sra. Zambelli”, declarou a vice-ministra. “As apurações prosseguem em colaboração com as autoridades brasileiras, e os dados já foram compartilhados com a Procuradoria de Roma”, completou a representante do governo de Giorgia Meloni, primeira política da ultradireita no poder desde o ditador Benito Mussolini.
A resposta revoltou o deputado Bonelli, que acusou o governo de omissão deliberada. O líder da Aliança Verde e de Esquerda e do Movimento Europa Verde classificou a situação como “absurda e inaceitável” e afirmou que o governo italiano já sabia da chegada de Zambelli antes mesmo da publicação do alerta da Interpol. Em maio, a parlamentar do PL foi condenada a 10 anos de prisão e à perda de mandato por ter invadido o sistema do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). A decisão foi por unanimidade na Primeira Turma do STF (5 a 0).
VERGONHA
Segundo o deputado, o governo permitiu a fuga porque não monitorou a brasileira. “O governo italiano é responsável pelo ocorrido. Eles deixaram uma pessoa procurada escapar e agora dizem que não sabem onde ela está. É uma vergonha para o país. Mas outra notícia grave é que os filhos de Bolsonaro, Flávio, Eduardo e Carlos obtiveram a cidadania italiana”, disse.
APOIO
Bonelli, durante a réplica no Parlamento, acusou o governo Meloni de acobertar Zambelli por razões ideológicas e diplomáticas. Segundo ele, é evidente o vínculo político entre a Lega, partido da base governista italiana, e o ex-presidente Jair Bolsonaro, do qual Zambelli foi uma das principais aliadas. “A Itália não pode se tornar o paraíso dos golpistas e criminosos internacionais. O mundo sabe, o governo brasileiro sabe, que o governo italiano permitiu a entrada de Zambelli sem qualquer monitoramento”.
IMIGRANTES
O parlamentar também destacou a disparidade no tratamento dado a jovens imigrantes de segunda geração na Itália. “Colocam vigilância até em meninos filhos de imigrantes. E quando chega uma procurada internacional, dizem que não sabem onde está? Isso é escandaloso”, afirmou.