A afronta a democracia precisa ser enfrentada com pulso mais forte; a tolerância tem limites
(*) Fernando Benedito Jr.
No oitavo dia após a posse de Lula caravanas de golpistas adentraram Brasília, depredaram o plenário do Supremo Tribunal Federal, tomaram o Congresso Nacional, invadiram as proximidades do Palácio do Planalto e ninguém fez absolutamente nada.
O governador do Distrito Federal Ibaneis Rocha, novamente, disse que a polícia estava mobilizada. Não estava. Seu secretário de Segurança, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, fez vistas grossas. Como fez durante os primeiros atos de vandalismo, dias atrás.
Certamente não haverá sequer um preso e nenhum Boletim de Ocorrência. A Força Nacional não ofereceu nenhuma resistência (um de seus veículos foi parar no espelho d’água, em clara demonstração de fraqueza), a Polícia Legislativa tentou conter a multidão com sopros sprays de pimenta. A conivência das forças de segurança com os golpistas nunca foi tão evidente, clara, óbvia.
Sabe-se que ônibus com golpistas saíram de Ipatinga e de vários outros lugares do País. Durante a semana a ida destas caravanas a Brasília foi anunciada aos quatro ventos. Mas os serviços de informação do novo governo não atentaram para a situação ou a subestimaram. Se Lula e Janja estivessem no Palácio do Alvorada e os manifestantes quisessem linchá-los seriam alvos fáceis.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, que havia colocado a Força Nacional à disposição do governo do Distrito Federal, não deve ter dado ordens claras, ou sua voz de comando não foi obedecida. O ministro da Defesa, amigo de acampados em frente ao Quartel general em Brasília, não deu ordem alguma.
Enfim, foi uma festa para os golpistas. Fizeram o que bem entenderam, quebraram o que quiseram, fizeram selfies com a polícia, gravaram as imagens para divulgar em suas redes sociais e celebraram a vitória.
A depredação do Supremo Tribunal Federal e o arrombamento da porta do gabinete do ministro Alexandre de Moraes são situações emblemáticas deste Capitólio à brasileira.
Os golpistas querem um herói, que já não é mais Bolsonaro: esperam por uma vítima da repressão para engrossarem o caldo. Portanto, a situação precisa ser tratada com habilidade, mas não com condescendência.
A afronta à democracia precisa ser enfrentada com pulso mais forte; a tolerância contra os que defendem a tirania, a destruição das instituições democráticas e o golpe militar tem limites.
(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.