Artista visual Rodrigo Zeferino exibe seu mais recente trabalho na BIENALSUR, evento que tem início na Argentina e percorre outros 29 países
Foto: As obras de Zeferino ocupam uma sala exclusiva no Museo Emilio Caraffa, em Córdoba
IPATINGA – O artista visual ipatinguense Rodrigo Zeferino, passou os últimos três anos produzindo seu mais recente trabalho, intitulado “Performances entomológicas”. Nesta série de fotografias, ele mostra imagens aparentemente abstratas, mas que foram obtidas a partir da captura do voo de mariposas que perambulam por zonas urbanas durante a noite.
A obra é mais uma derivação de sua longa pesquisa acerca dos efeitos da chamada poluição luminosa, fenômeno típico de áreas urbanizadas que, entre várias outras consequências – como o encobrimento dos astros no céu noturno, por exemplo – exerce forte influência sobre a vida animal.
NATUROCULTURA
O trabalho está sendo exibido pela primeira vez já em grande estilo. Zeferino é um dos artistas que participam da exposição “Naturocultura”, parte da programação da BIENALSUR, evento de grande amplitude realizado na Argentina, desde 2017. Apesar de estar apenas em sua 4ª edição, a BIENALSUR se diferencia de outras grandes bienais, como a de São Paulo ou a de Veneza, na Itália (para citar algumas das mais conceituadas do mundo) por se realizar de forma descentralizada, em vários lugares simultaneamente e também de forma itinerante.
A mostra Naturocultura, com curadoria do argentino Pablo La Padula, trata das conturbadas relações entre a humanidade e o meio ambiente nos dias atuais, reunindo trabalhos de artistas da Colômbia, França e Espanha, além das obras do ipatinguense.
A BIENAL
Em sua primeira fase, a bienal argentina, iniciativa que surgiu de dentro da Universidad Nacional Tres de Febrero (Untref), na província de Buenos Aires, inaugura exposições em diferentes cidades do país vizinho. Em cada uma delas, museus e outras instituição dedicadas à arte são completamente ocupadas por exposições que abrigam obras de artistas de várias partes do mundo.
A série criada por Zeferino está em exposição no Museo Provincial de Bellas Artes Emilio Caraffa, em Córdoba. São 14 obras, entre fotografias e vídeos que ocupam uma sala exclusiva do museu.
Numa segunda fase, as exposições viajam pelo mundo e são exibidas em outros 29 países em todos os continentes.
O APAGAMENTO DOS ASTROS
Ao longo dos últimos 12 anos, o artista mineiro produziu diferentes trabalhos que abordam a temática da poluição luminosa. As imagens de “Performances entomológicas”, são construídas a partir do registro das mariposas em pleno voo, ao serem atraídas pela forte luminosidade emitida pelas cidades.
A poluição luminosa é um problema que permanece ironicamente às sombras das grandes questões sociais da contemporaneidade. Apesar de várias entidades ao redor do globo, como a Dark Sky Association, com sede nos Estados Unidos, por exemplo, estudarem o fenômeno com a seriedade que ele merece, a sociedade de modo geral ainda não despertou para existência deste problema.
CÉU APAGADO
O excesso de luz emitido pelas áreas urbanizadas é responsável por criar uma aura brilhante no espaço aéreo sobre si mesmas, bloqueando a visibilidade do céu noturno. De acordo com o jornal britânico The Guardian, astrônomos alertam que dentro dos próximos 20 anos, a maior parte das estrelas e as principais constelações serão ofuscadas pela poluição luminosa. A causa central são os LEDs. Atualmente eles iluminam o céu noturno a uma taxa que aumenta 10% a cada ano. Isso significa que, em um local onde hoje 250 estrelas são visíveis, daqui menos de duas décadas, serão apenas 100. “Há algumas gerações atrás, as pessoas tinham um contato costumeiro com a visão do cosmos, mesmo em cidades iluminadas. Hoje em dia, precisamos nos afastar, nos deslocar para a zona rural para conseguir ver um céu estrelado e podermos nos maravilhar com a beleza e a suntuosidade com que ele nos arrebata”, diz o artista.
Ele atenta para o fato de que muitas pessoas passam toda a vida sem ter a oportunidade de desfrutar do privilégio de apreciar uma abóbada celeste limpa durante a noite. “Todos deveriam ter acesso a essa experiência, que foi tão importante para a humanidade ao longo da história. Os astros guiaram navegadores e inspiraram poetas. Hoje somos privados disso devido à ampliação desregrada das zonas iluminadas e à falta de reflexão sobre o assunto”, comenta.
A exposição Naturocultura fica em cartaz no Museu Caraffa até o dia 3 de setembro. Em outubro deste ano, a série “Performances Entomológicas”, de Rodrigo Zeferino será exibida também durante o MedPhotofest, festival de fotografia realizado às margens do Mar Mediterrâneo, na cidade de Catânia, na Itália.