Galeria parisiense vai exibir imagens do projeto O Grande Vizinho, de Rodrigo Zeferino, um ensaio fotográfico sobre a relação de Ipatinga com a siderurgia
Legenda: O artista visual é especialista em fotografia noturna – Fotos: Rodrigo Zeferino
IPATINGA – Entre os anos de 2016 e 2018, o artista da fotografia Rodrigo Zeferino se dedicou à criação de um ensaio fotográfico que traçava uma narrativa visual com um olhar crítico sobra a relação da cidade de Ipatinga com a planta da Usiminas. A partir da abordagem deste caso urbanístico peculiar, em que uma ampla área urbana circunda uma usina siderúrgica, Zeferino produziu uma série com mais de 80 imagens que contam um pouco sobre a sensação de ser vizinho de uma das maiores fábricas de aço do mundo.
Intitulado O Grande Vizinho, o trabalho vem recebendo prêmios importantes desde a sua concepção e neste ano as fotografias do artista caíram nas graças dos franceses. No último mês de julho, o coletivo de curadoras Iandé Photographie, dedicado a levar obras de fotógrafos e fotógrafas brasileiros para a França, em parceria com a Photo Doc Paris (evento que promove a fotografia documental na capital francesa), ofereceram o prêmio “Iandé-Photo Doc” para ensaios feitos no Brasil com o tema “Rituais de Resistência”.
Liderado por Glaucia Nogueira e Ioana Melo, o Iandé convidou curadores de todo o Brasil a indicar artistas cujos trabalhos considerassem relevantes para serem mostrados durante o Rencontre d’Arles, um dos mais tradicionais festivais de fotografia do mundo. Desses indicados (foram cerca de 30), três seriam laureados. Com indicação do curador belorizontino Eugênio Sávio, Zeferino foi mais uma vez um dos premiados e ainda ganhou a oportunidade de expor e comercializar seu trabalho em uma charmosa galeria do tradicional bairro Marais.
A abertura da exposição, que terá também a participação dos artistas Ana Mendes, Edgar Kanayko e Ilana Bar, acontece no próximo dia 12, na galeria Basia Embiricos.
Trajetória
No último mês de setembro, O Grande Vizinho já havia sido exibido no Oriente Médio, durante o Amman Image Festival, na Jordânia, a convite do curador brasileiro Renato Negrão.
Também em 2021, algumas imagens deste trabalho foram integradas ao acervo do Museu da Fotografia de Fortaleza, a partir do Prêmio Aquisição oferecido pela instituição.
A trajetória brilhante desta série de fotografias começou a ganhar destaque em 2017, quando, ainda durante sua execução, o artista recebeu o Prêmio FCW, oferecido pela Fundação Conrado Wessel, de São Paulo, nada menos que o maior prêmio em dinheiro até então oferecido no Brasil para trabalhos de fotografia artística.
Em 2019, o Prêmio Foto em Pauta, do Festival de Fotografia de Tiradentes, tornou possível que o trabalho fosse publicado em livro, pela editora Tempo d’Imagem. Com tiragem de 800 unidades, a publicação oportunizou um alcance maior, já foi vendida para todas as regiões do Brasil, além de ter sido enviada para mais de 8 países. E para os interessados, ainda há exemplares disponíveis.
Sobre o projeto
O ensaio completo mistura a linguagem da fotografia documental com uma perspectiva artística. O projeto foi executado em duas fases distintas. Na primeira, as imagens foram feitas nos bairros que ficam no entorno da usina, sempre durante a noite, tendo a cidade em primeiro plano e as estruturas da siderúrgica ao fundo. Os personagens presentes nas imagens são moradores reais que foram abordados por Zeferino durante o processo de criação e concordaram em posar para suas lentes, de modo que a presença humana fosse marcante nas obras.
A segunda fase traz uma interpretação visual das áreas internas da planta. Com autorização da diretoria da empresa, o artista fez diversas visitas à área da usina durante o ano de 2018. O resultado do trabalho é um conjunto de imagens que sugere uma atmosfera ficcional para o ambiente da fábrica, no qual máquinas, matérias-primas e rejeitos são registrados de forma poética e crítica.