sexta-feira, setembro 19, 2025
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Fórum de Líderes da ABM Week 2025 reforça união do setor

Lideranças da siderurgia apontam eficiência e marco regulatório como caminhos para a competitividade

BH – No Auditório Ternium e Usiminas, no primeiro dia da ABM Week 2025, aconteceu o “Fórum de Líderes – Estratégias para a competitividade do setor minero-metalúrgico frente aos desafios globais”, um dos painéis principais e mais aguardados do encontro. A mesa debatedora reuniu representantes das principais companhias e entidades doa siderurgia no Brasil: Marcelo Chara, CEO da Usiminas; Jorge Adelino de Faria, vice-presidente de Operações da ArcelorMittal Brasil; Maurício Metz, vice-presidente da Operação Gerdau Aços Brasil; Ricardo Carvalho, Acionista e Membro do Conselho de Administração da Aço Verde do Brasil; e Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Aço Brasil, com moderação do professor Germano Mendes de Paula, da Universidade Federal de Uberlândia.

Professor Germano Mendes de Paula, durante a abertura da sessão

PROTAGONISMO CHINÊS

Abrindo a sessão, Germano contextualizou o cenário global e ressaltou o protagonismo da China na siderurgia mundial. Segundo ele, “o maior impacto foi a expansão da exportação chinesa de produtos que contêm aço, o que permitiu que a siderurgia do país crescesse e dominasse o cenário global”. O moderador lembrou que, se em anos anteriores a atenção estava voltada para o ritmo da economia chinesa, em 2025 o foco recai sobre as barreiras tarifárias. “A questão agora é como a siderurgia brasileira está enfrentando esse novo tarifaço e como equilibrar a competitividade da indústria nacional”, completou. Além das incertezas geradas pela geopolítica, o professor destacou desafios históricos do setor: a sobrecapacidade global de produção, os efeitos das novas tarifas e a urgência de avançar no processo de descarbonização.

CENÁRIO DESAFIADOR

A discussão norteadora girou em torno de um cenário desafiador, marcado pelo aumento da competição internacional, pela pressão das importações e pelas transformações ligadas à sustentabilidade. Os líderes foram unânimes ao apontar que o futuro da siderurgia nacional depende da combinação entre eficiência operacional, inovação tecnológica e um marco regulatório capaz de assegurar condições justas de concorrência.

“O Brasil é um dos mercados mais atrativos e menos protegidos do mundo. Estamos sendo invadidos por produtos que chegam com margens negativas, muitas vezes oriundos de países que não praticam as mesmas leis de mercado. Não podemos competir com concorrentes que recebem subsídios ou não seguem regras mínimas de sustentabilidade”, afirmou Marco Polo de Mello Lopes, destacando a urgência de medidas de defesa comercial.

MECANISMOS DE PROTEÇÃO

Marcelo Chara, CEO da Usiminas, reforçou a necessidade de ativar mecanismos de proteção mais eficazes e ao mesmo tempo investir em eficiência. “Hoje, uma parte significativa de aço no Brasil é importada. Precisamos melhorar a nossa cadeia de valor, reduzir o ‘Custo Brasil’, enfrentar gargalos logísticos e, como empresas, fazer um esforço enorme para aumentar a eficiência, diminuir impactos ambientais e reduzir emissões. A articulação com as autoridades será fundamental para que o setor consiga responder com agilidade”, destacou.

RESILIÊNCIA E CRIATIVIDADE

Do lado da ArcelorMittal, Jorge Adelino de Faria lembrou da resiliência do setor e da criatividade brasileira diante das dificuldades. “O brasileiro cria soluções na dificuldade, mas o momento é muito desafiador. Precisamos nos reinventar para encontrar caminhos simples e eficazes”, pontuou.

Maurício Metz, representando a Gerdau, trouxe para o debate a visão do mercado consumidor e o avanço das demandas socioambientais. “Os clientes estão cada vez mais exigentes e querem transparência sobre emissões, certificações e origem do produto. O Brasil ainda depende fortemente da rota integrada, mas é preciso se preparar para um futuro em que a sucata terá papel central. Talvez em uma década já tenhamos no país um volume disponível semelhante ao da Europa”, explicou.

Foto: Maurício Metz, vice-presidente da operação Gerdau Aços Brasil

EQUILÍBRIO

Já Ricardo Carvalho, da Aço Verde do Brasil, destacou a necessidade de equilibrar competitividade e responsabilidade socioambiental. “Temos que ser competitivos, mas sem impactar o meio ambiente e as comunidades. A eficiência é uma obrigação das empresas, mas o marco regulatório é vital para assegurar um campo de jogo equilibrado”, afirmou.

RECICLAGEM EM FOCO

A agenda da descarbonização, ainda que impactada pelos desafios de mercado, foi lembrada como inevitável. Os executivos reconheceram que, diante das pressões comerciais e tarifárias, o tema perdeu tração no curto prazo, mas destacaram que a transição verde é uma exigência crescente da sociedade. “Hoje não há espaço, mas a descarbonização vai acontecer — está apenas aguardando sua vez de chegar”, destacou um dos participantes.

O papel da reciclagem também foi ressaltado como vetor de protagonismo. Atualmente, cerca de um terço do aço produzido no mundo já vem da sucata, reforçando a importância do reaproveitamento de materiais. No entanto, o setor ainda enfrenta o desafio de adaptar tecnologias para certos tipos de aço que não podem ser produzidos totalmente a partir de sucata.

CARVÃO VEGETAL

Outro ponto levantado foi o uso do carvão vegetal, que já teve produção de 12 milhões de toneladas no Brasil, mas hoje não chega à metade desse volume. “O mercado de carvão vegetal foi carente de soluções tecnológicas, e isso comprometeu seu desenvolvimento como alternativa sustentável”, avaliou Ricardo, lembrando que a expansão desse insumo pode ser estratégica para reduzir as emissões no país.

CAMINHOS PARA O FUTURO

O Fórum de Líderes reforçou que, embora a indústria siderúrgica brasileira esteja entre as dez maiores do mundo, a competitividade global exige respostas rápidas e coordenadas. Entre as principais diretrizes apontadas estão:

● Eficiência como obrigação das empresas, com investimentos contínuos em produtividade e inovação;

● Marco regulatório robusto para equilibrar a competição internacional e mitigar os impactos das importações subsidiadas;

● Defesa comercial ativa, diante da pressão da China e da entrada de produtos com margens negativas;

● União do setor para fortalecer políticas industriais e articular com governos;

● Sustentabilidade e reciclagem como diferenciais para manter relevância em um mercado cada vez mais exigente.

O consenso entre os líderes é que o Brasil reúne condições para se tornar referência global, mas precisa avançar em políticas industriais, inovação e integração de esforços. Como sintetizou um dos executivos: “O que vai levar o nosso aço para o futuro é a conexão entre as pessoas e a capacidade de encontrarmos soluções juntos”.

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