Mais de 40 embarcações desafiam o bloqueio ilegal imposto ao povo palestino em Gaza; leia relato de brasileiros que integram a missão humanitária
A missão internacional de solidariedade ao povo palestino, conhecida como Flotilha Global Sumud, segue a poucas horas de chegar ao seu destino final: a Faixa de Gaza. Mais de 40 embarcações carregadas com ajuda humanitária desafiam o bloqueio ilegal imposto por Israel há mais de 17 anos. Entre os participantes da missão estão dois representantes da CSP-Conlutas, Magno de Carvalho e Bruno Gilga, que vêm enviando relatos diários sobre os momentos de tensão vividos a bordo.
“ZONA DE GUERRA”
Na madrugada de quarta-feira (1/10), a flotilha entrou na chamada “zona de alto risco”, área onde Israel já realizou diversas interceptações de missões semelhantes. De acordo com o capitão do Sirius, embarcação onde viajam os representantes brasileiros, faltam cerca de 20 horas de navegação até Gaza.
A pressão militar, no entanto, já é intensa. Durante a noite anterior, navios de guerra e até submarinos israelenses cercaram as embarcações em uma clara tentativa de intimidação. “Na noite passada, a marinha israelense resolveu não deixar a gente dormir. Passou um enorme navio de guerra bem próximo dos nossos barcos, além de um submarino acendendo suas luzes quase na superfície”, relatou Magno de Carvalho.
Apesar da tensão, ele reforçou a confiança da tripulação: “Nos portamos com tranquilidade, cumprindo todos os protocolos que vínhamos treinando, sem falhas. Estamos preparados e com a moral alta. Nossa inspiração é a resistência heroica do povo palestino. Cada vez fica mais claro que a vitória dos palestinos é a vitória de todos os que lutam contra o imperialismo e pela superação do capitalismo. Em frente!”
MOBILIZAÇÃO INTERNACIONAL
Bruno Gilga acrescentou que é fundamental intensificar a mobilização internacional: “É preciso dar visibilidade à Flotilha e denunciar qualquer tentativa de repressão”.
Enquanto isso, cresce a disputa política em torno da missão. Países como Itália e Espanha, que inicialmente acompanharam a flotilha com navios militares, recuaram após pressão de Israel e dos Estados Unidos, encerrando a escolta a cerca de 240 km da costa de Gaza. A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, chegou a criticar a iniciativa, alegando que poderia “atrapalhar o plano de paz” anunciado por Donald Trump e Benjamin Netanyahu.
PAZ DOS CEMITÉRIOS
Esse suposto “plano de paz” — denunciado como a “paz dos cemitérios” — ignora reivindicações históricas dos palestinos e mantém a colonização e o apartheid. O acordo não prevê sequer o reconhecimento do Estado Palestino, relegando às famílias palestinas, que já perderam mais de 66 mil vidas nos últimos dois anos de massacre, apenas a rendição.
ABAIXO-ASSINADO
Diante do risco iminente de interceptação, um abaixo-assinado com mais de 350 assinaturas de artistas, acadêmicos, movimentos sociais e personalidades políticas pede que o governo Lula adote medidas para proteger os brasileiros a bordo da flotilha. O documento destaca que a missão é inteiramente pacífica e humanitária, e que qualquer tentativa de criminalizá-la como “ligada ao Hamas”, como faz o governo sionista de Netanyahu, é uma acusação mentirosa para justificar a violência.
Em mensagem enviada nesta terça-feira (30), Magno de Carvalho reforçou:
“Isso reduz nossa escolta internacional, mas não altera o nosso compromisso. Repudiamos as falsas acusações e afirmamos que qualquer interceptação, sequestro ou prisão de pessoas é totalmente ilegal. Nosso firme propósito é chegar a Gaza com ajuda humanitária para o povo palestino. O acordo de paz proposto por Trump é absurdo e significa os palestinos abrirem mão de sua terra. Estamos com o povo palestino.”
RESISTÊNCIA E ESPERANÇA
A aproximação da flotilha ocorre em meio a um cenário de genocídio, ataques diários e colonização crescente na Cisjordânia e em Gaza. Mesmo assim, a coragem e a solidariedade expressas na Global Sumud mostram que a luta palestina continua a mobilizar trabalhadores, movimentos e povos em todo o mundo.