Cidades

Fascismo, não!

Viu-se de tudo nas manifestações de 15 de março. Triângulos de quatro lados, mulheres apoiando o feminicídio e, principalmente, um bando de idiotas pedindo a intervenção militar. Se fosse o impeachment da Dilma, ainda seria discutível, já que realmente o segundo mandato da presidenta não está lá grande coisa – embora se saiba que, por si só, o fato de fazer um mau governo não é motivo para depor ninguém.
Se fosse um ou outro cartaz pedindo intervenção militar, gestos isolados de pequenos grupos de ultradireita, tudo bem. Mas o apelo se generalizou nas manifestações pelo País afora, numa perigosa orquestração para trazer de volta um passado tão desprezível quanto aqueles que defendem seu retorno.

Manifestante em SP pede a volta dos militares

Ora, não menos desprezível e ultrajante é a corrupção no Brasil, os sucessivos escândalos envolvendo recursos públicos, a bandalheira e nas casas legislativas, executivas e judiciárias em todos os níveis, o gigantismo do Estado corrupto, a usurpação tributária sobre os pequenos empresários e a classe média, o pífio desempenho da economia, etc. É uma realidade que, sem dúvida, enseja protestos, manifestações de repúdio, atos de desobediência civil, até. Mas daí a fazer a apologia do autoritarismo, dos regimes de força, é de uma ignorância inaceitável.
Neste sentido, as manifestações de 15 de março, ainda que alguns setores da esquerda busquem minimizá-los e até ridicularizá-lo como atos da pequena burguesia e de empresários descontentes, ações da oposição tucana e de anti-petistas (o que de fato são), precisam ser interpretadas como um movimento que tem algo a dizer, ainda que não esteja claramente focado e com bandeiras definidas. Portanto, o governo deve dar a devida atenção ao que se quer dizer ali, para além da aleivosia e do ódio destilados desde a derrota nas eleições passadas.
Se os senhores deputados e senadores, tratassem de encaminhar mais rapidamente uma reforma política que eliminasse a reeleição, o financiamento privado de campanhas eleitorais; implementassem de forma igualmente rápida uma legislação eficiente e rigorosa contra a corrupção, metade do caminho já estaria percorrido.
Ao invés disso, ficam eles próprios a fomentar o ódio, como se não tivessem nada a ver com isso e a culpa fosse exclusivamente do governo Dilma; como se o Executivo fizesse reforma política, votasse Projeto de Lei, enfim, decidisse sozinho os destinos da Nação.

Manifestante no Rio

Enquanto “enrolam” com a reforma política e a reforma tributária, para citar duas mudanças que precisam ser feitas com urgência no Brasil, os parlamentares acabam criando o ambiente propício ao surgimento da revolta e com ela dos movimentos reacionários que buscam a solução das mazelas nacionais no atraso e no retrocesso de regimes totalitários que foram banidos de quase todos os países do mundo.
Vendo aquilo ali na praça, parece muito mesmo com aqueles movimentos tipo a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que precederam o golpe militar de 1964 ou que levaram à ascensão do nacional socialismo na Alemanha hitlerista. Aí, bacanas, tudo bem, podem manifestar, mas vai ter muita gente contra esta atitude fascista e terão que enfrentar uma pedreira para implantar este regime de que falam nestes atos públicos.
Tem muita gente aí, entre os quais este articulista, que se forjou em manifestações de rua contra a ditadura, na luta pela anistia e pelas diretas-já e não concordam com absolutamente nada deste discurso do absurdo. Então, para encerrar, é melhor definirem melhor o que querem, porque se o que querem é o fascismo, já tem muita gente entrincheirada.

(*) Fernando Benedito Jr. é jornalista e editor do “Diário Popular”.

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