Crédito das fotos: Divulgação / Sejusp
Destinação sustentável do material que seria descartado gera renda para familiares de detentos. Máquina para triturar o isopor foi criada na unidade prisional
FABRICIANO – Uma parte do isopor das marmitas utilizadas diariamente no Presídio de Coronel Fabriciano, no Vale do Aço, é transformada em vasos decorativos para plantas, ao invés de aumentar a quantidade de lixo descartado em aterros sanitários da região. Isso significa benefícios para a natureza, para os detentos dedicados à atividade e seus familiares, ao presídio e ainda a entidades filantrópicas, que recebem 10% da produção mensal para venda e ajuda no custeio de suas atividades.
Três presos trabalham, de segunda a sexta-feira, de 8h às 16h, na fabricação dos vasos, que têm uma receita simples de 80% de flocos de isopor e 20% de cimento – comprado pelos parentes. Em troca, esses familiares ficam com 90% da produção para a venda das peças, ajudando na renda familiar. Os presos têm direito à remição de pena, ou seja, para cada três dias de trabalho, um é reduzido da sentença.
PRODUÇÃO
São fabricados, por mês, aproximadamente 40 vasos, dos quais cerca de quatro são doados para duas instituições de Coronel Fabriciano: a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) e o Asilo São Vicente de Paulo. A Casa Rosa, em Timóteo, que acolhe mulheres vítimas de violência doméstica, em situação de vulnerabilidade social, também recebe os materiais. As instituições beneficiadas vendem os vasos para ajudar em suas despesas de manutenção, ou ficam com algumas peças para trazer mais verde aos locais.
DESTINAÇÃO
A presidente da Casa Rosa, Sara Oliveira, começou a receber os vasos produzidos pelos presos em outubro de 2020. Até hoje, foram cerca de 15 peças que, ao serem vendidas, contribuem com o pagamento de algumas despesas básicas mensais da instituição. “Os vasos são lindos, ecologicamente corretos e nos ajudam como um meio de sobrevivência”, garante a presidente.
O diretor do Presídio de Coronel Fabriciano, João Batista Ferreira, relata que a ideia da fabricação dos vasos ornamentais foi uma iniciativa da direção, juntamente com a equipe de produção do presídio, há mais ou menos dois anos, quando os marmitex de alumínio entregues nas unidades prisionais foram substituídos pelos de isopor. “A produção dos vasos é uma atividade muito importante para o Presídio de Coronel Fabriciano. O detento se sente tranquilo e produtivo, ao ajudar sua família. E ainda damos uma destinação sustentável a esse material gerado diariamente”, reforça o diretor.
TECNOLOGIA
Quando os servidores da unidade prisional de Coronel Fabriciano perceberam o volume de isopor gerado pelas marmitas fizeram tentativas frustradas de encaminhar o material para reciclagem, pois não encontraram empresas especializadas na destinação correta do isopor no Vale do Aço. A partir daí, resolveram desenvolver na unidade uma máquina própria, dotada de um motor, correia de alimentação, recipiente para receber o isopor e uma espécie de lâmina, que tritura o material e o transforma em flocos.
Depois de chegarem na proporção ideal de cimento e isopor, mantiveram os protótipos dos vasos com plantas, durante meses, para testarem a resistência à umidade e ao peso da terra vegetal.
A quantidade de peças produzidas depende da complexidade e tamanho dos modelos, da estrutura das formas e, ainda, da temperatura ambiente para secagem, para ser iniciado o acabamento com modelagem manual. Elas são feitas nos tamanhos grande, médio e pequeno, o que corresponde às seguintes medidas: 50x55cm, 38x40cm e 20x25cm.
ESPECIALISTA
Pintura artística em murais e experiência profissional em prótese odontológica — atividades de sensibilidade, técnica e olhar apurado — estiveram presentes na vida do detento Wanderson da Silva, 39 anos, antes de entrar no Presídio de Coronel Fabriciano. Hoje, ele é um dos principais responsáveis, junto com mais dois detentos, pela confecção dos vasos de isopor em Coronel Fabriciano.
Ele participa de todas as etapas da fabricação dos vasos, construiu as formas e gosta de ensinar o ofício para os novatos. “Tem sido muito bom, posso desenvolver e expandir minhas habilidades manuais e artísticas, além de transmitir conhecimentos. Quando a gente ensina, aprende muito mais”, reflete Wanderson da Silva.